Jaime Ortega Carrascal.
Bento Gonçalves (Brasil), 1 out (EFE).- Os produtores de vinhos finos do Brasil querem conquistar um nicho no mercado internacional, como os argentinos e os chilenos, e para consegui-lo intensificaram suas campanhas de divulgação e promoção nos Estados Unidos, na Europa e na Ásia.
"Somos pequenos produtores em relação a outras regiões, mas estamos começando a despertar para o velho mundo", disse à Agência Efe o presidente do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), Alceu Dalle Molle, durante um ato em Bento Gonçalves, a capital vinícola do Brasil, no Rio Grande do Sul.
Alceu assinalou que assim como a Argentina ganhou mercados com sua produção de tintos elaborados com uva Malbec, e Chile com a Carménere, o Brasil está começando a abrir portas com os espumosos da casta Chardonnay, que junto com a Merlot é das que melhor se adaptou ao solo e às condições meteorológicas do sul do país.
Segundo dados divulgados pelo Ibravin, as adegas participantes do programa "Wines of Brasil", que tem o apoio da Agência Brasileira de Promoção das Exportações (Apex-Brasil), venderam no primeiro semestre deste ano no exterior vinhos num valor total de US$ 1,85 milhões, 86% mais que no mesmo período de 2011.
São números pequenos se for levado em conta que a vitivinicultura gerou no ano passado cerca de R$ 2 bilhões na economia brasileira, mas Alceu considera que o processo de internacionalização, embora seja demorado, caminha bem.
"A abertura de novos mercados é questão de tempo", afirmou o presidente do Ibravin.
Em volume, as exportações do primeiro semestre foram de 760.300 litros, 142% mais que entre janeiro e junho de 2011.
Para tornar os vinhos finos conhecidos no exterior, o Ibravin e a Apex-Brasil organizaram nos últimos meses campanhas de divulgação e rodas de negócios em várias cidades dos Estados Unidos, Alemanha, Holanda, Polônia, Suécia, Finlândia, Reino Unido e China, seu principal comprador.
Nessas campanhas participaram algumas das vinícolas mais importantes do país, como Aurora, Casa Valduga, Basso, Miolo, Salton e Lido Carraro, quase todas de Bento Gonçalves ou de municípios vizinhos.
Um sucesso dos vinhos brasileiros foi a escolha de um tinto da Miolo como o vinho oficial dos passados Jogos Olímpicos de Londres, para os quais a empresa produziu um corte de Shiraz, Tempranillo e um toque de Gamay.
Segundo explicou Miguel Almeida, enólogo da Miolo, o tinto dessa adega foi engarrafado na França, mas com rótulo brasileiro para a Bibendum Wine Limited, encarregada de fornecer o vinho nos Jogos Olímpicos.
"Estamos construindo a imagem dos vinhos brasileiros. É um trabalho que começa a aparecer", disse Almeida, português radicado há alguns anos no Brasil.
Os donos de vinícolas advertem, no entanto, que embora a qualidade de seus vinhos melhore ano após ano, a alta carga tributária encarece a produção, dificulta as exportações.
"A maior dificuldade está no preço porque os impostos encarecem demais a cadeia produtiva", disse à Efe Daniel Panizzi, gerente da Don Giovanni, adega que recentemente começou a exportar para a República Tcheca, seu primeiro mercado externo.
Segundo Panizzi, "os importadores chegam ao Brasil com expectativas (de preços) que poucas vinícolas conseguem atender", o que obstaculiza a abertura de mercados para os pequenos produtores.
Uma experiência diferente é a da Casa Valduga, proprietária de várias vinícolas na região, que há sete anos lançou o Programa Mundvs, mediante o qual produz vinhos na Argentina (Malbec), Chile (Cabernet Sauvignon) e Portugal (Regional Alentejo) com parceiros locais.
"Elaboramos vinhos em sociedade com o que há de melhor em cada um desses países", explica Juciane Casagrande, diretora comercial da Casa Valduga, que começou sua caminhada internacional em 2004 com exportações para Alemanha, Estados Unidos e República Tcheca.
Segundo Juciane, o Programa Mundvs, que produz apenas 60 mil garrafas por ano, será ampliado em breve com a incorporação da Itália, para o qual já têm uma adega da Toscana, e depois Austrália, enquanto da Espanha disse que, embora seja um país que lhes interessa, ainda não têm parceiros locais para produzir.
"O projeto Mundvs é uma iniciativa de caráter econômico, mas também uma troca cultural interessante porque nos permite saber o que o mundo bebe", disse Juciane. EFE
joc/ma