SÃO PAULO (Reuters) - Os cafeicultores brasileiros criticaram e contestaram nesta quarta-feira as recentes estimativas do governo para as safras de café neste e no próximo ano, por considerarem superestimadas e realizadas com base em critérios questionáveis, de acordo com nota divulgada pelo Conselho Nacional do Café (CNC) e a Comissão Nacional do Café da CNA.
O CNC e a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) disseram repudiar "veementemente" as previsões, levando em conta os impactos que podem causar à vida dos milhões de produtores de café do Brasil, ao pressionar os preços.
"Ao longo dos últimos dias, fomos surpreendidos com um prognóstico e com uma estimativa para as safras brasileiras de café anunciadas pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab)", disseram as entidades em nota. "Para 2015, técnicos da estatal, absurda, incoerente e inconsequentemente, apontaram uma produção de 48,8 milhões de sacas de 60 kg."
O prognóstico governamental consta do relatório com perspectivas para a agropecuária no país na próxima temporada, divulgado pela Conab na semana passada.
As associações avaliam que a severa seca registrada no início do ano, em um período que deveria ser chuvoso, afetou não apenas a produção de 2014, como terá efeitos em 2015 na colheita do maior produtor e exportador global de café.
"É incabível que um órgão federal divulgue dados para o ciclo cafeeiro futuro com base em tendências e estatísticas históricas, haja vista que essas tendências foram consideradas da mesa do escritório, sem sequer irem a campo...", disse a nota.
A Conab disse por meio da assessoria de imprensa, após divulgar o estudo, que os dados de 2015 foram calculados com base em tendências e estatísticas, e não em pesquisas de campo.
A primeira estimativa oficial da companhia, com dados de campo para a temporada 2015, está prevista para 9 de janeiro.
"Pensando-se na safra 2015, qualquer análise ou estimativa séria poderá ser desenvolvida somente a partir de dezembro, quando poderemos observar o pegamento ou não das floradas e quais foram os efeitos do veranico do primeiro bimestre e dos baixos índices pluviométricos e das altas temperaturas que assolam o parque cafeeiro ao longo de praticamente todo este ano", disseram as entidades.
Nesta semana, a Conab ainda elevou sua previsão para a safra brasileira de café deste ano a 45,14 milhões de sacas, ante 44,57 milhões de sacas na estimativa divulgada em maio, devido a uma maior produção da variedade robusta e com uma leve queda nas estimativas do arábica.
"Com o permanente cenário climático negativo para a fitossanidade das plantas, é impossível a safra brasileira ser revisada para cima", disseram os produtores.
A estimativa da CNC para a safra de café de 2014 é de produção entre 40,1 milhões a 43,3 milhões de sacas.
A colheita de 2014 está na fase final, restando ser colhido algo entre 10 e 15 por cento da safra.
Procurado, o Ministério da Agricultura não respondeu imediatamente contato da Reuters.
(Por Roberto Samora)