BEIRUTE/MURSITPINAR Turquia (Reuters) - O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, reconheceu que os serviços de inteligência dos EUA subestimaram o avanço dos combatentes do Estado Islâmico no Iraque e na Síria, onde um líder de um braço da Al Qaeda alertou que militantes irão atacar o Ocidente em retaliação aos ataques aéreos norte-americanos.
Tanques turcos tomaram posição na fronteira com a Síria, do outro lado de uma cidade de fronteira sitiada onde os ataques do Estado Islâmico se intensificaram, resultando em disparos sobre o território turco.
Os ataques aéreos liderados pelos EUA durante a noite atingiram uma usina de produção de gás natural controlada por combatentes do Estado Islâmico no leste da Síria, disse um grupo de monitoramento, como parte de uma aparente campanha para afetar umas das principais fontes de receita dos militantes.
O grupo de monitoramento, o Observatório Sírio para os Direitos Humanos, disse que aviões também atingiram um armazém de grãos no norte da Síria, matando civis. Essa informação não pôde ser confirmada de imediato.
Os ataques aéreos até o momento não foram capazes de parar o avanço dos combatentes no norte da Síria em Kobani, uma cidade curda na fronteira com a Turquia, onde as batalhas da semana passada provocaram a mais rápida fuga de refugiados da guerra civil de três anos na Síria.
O Estado Islâmico, um grupo militante sunita que rompeu com a Al Qaeda, assustou o Ocidente e o Oriente Médio ao tomar partes do território do Iraque em junho, matando prisioneiros e ordenando que xiitas e grupos não muçulmanos se convertessem, ou seriam mortos.
O líder do braço sírio da Al Qaeda, a Frente Nusra, um grupo militante sunita que é rival do Estado Islâmico e também tem sido alvo de ataques dos Estados Unidos, disse que os militantes islâmicos vão realizar ataques contra o Ocidente em retaliação à campanha.
"Os muçulmanos não vão ficar assistindo enquanto seus filhos são bombardeados. Seus líderes não serão os únicos a pagar o preço da guerra. Vocês vão pagar o preço mais alto", disse Abu Mohamad al-Golani em uma mensagem de áudio postada em fóruns pró-Nusra.
Obama tem trabalhado desde agosto para construir uma coalizão internacional para combater os militantes, que foram descritos por ele na semana passada em discurso na ONU como uma "rede da morte".
O reconhecimento do presidente norte-americano, em entrevista exibida no domingo, de que os serviços de inteligência dos EUA subestimaram o Estado Islâmico ofereceu uma explicação para por que o país aparentemente foi surpreendido quando os combatentes avançaram pelo Iraque.
Os militantes estavam ocultos quando as forças dos EUA anularam a Al Qaeda no Iraque, com a ajuda das tribos locais, durante a guerra dos EUA no país, que terminou em 2011, disse Obama ao programa "60 Minutes", da CBS.
"Mas, ao longo dos últimos dois anos, durante o caos da guerra civil síria, onde essencialmente você tem enormes áreas do país que são completamente desgovernadas, eles foram capazes de se recompor e tirar proveito desse caos."
Obama, que quase ordenou ataques aéreos contra o governo do presidente sírio, Bashar al-Assad, há um ano, disse que reconhece a aparente contradição de se opor a Assad ao mesmo tempo em que enfrenta os adversários dele. Ele ainda defende que Assad deixe o poder, mas considera o Estado Islâmico uma ameaça mais urgente.
"Para a Síria permanecer unida, não é possível que Assad presida todo esse processo", disse ele na entrevista.
"Por outro lado, em termos de ameaças imediatas para os Estados Unidos, o EIIL, o grupo Khorasan, essas pessoas poderiam matar norte-americanos", acrescentou, usando um acrônimo do Estado Islâmico e o nome de uma célula separada da Al Qaeda.
(Reportagem adicional de Sylvia Westall, em Beirute; Angus McDowall, em Riad; Doina Chiacu e Peter Cooney, em Washington)