Teresa Bouza.
Calgary (Canadá), 28 mar (EFE).- O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) encerrou nesta segunda-feira sua assembleia anual em Calgary (Canadá), que esteve dominada pelos temores de uma alta inflacionária na América Latina, mas cuja mensagem predominante foi de que esta pode ser finalmente "a década" da região.
"A que acaba de começar deve ser a década da América Latina e do Caribe", disse nesta segunda-feira o presidente do BID, Luis Alberto Moreno, durante a sessão plenária da Assembleia de Governadores do organismo, integrado por 48 países.
Ele alertou, no entanto, que se a região ficar de "braços cruzados" e com "atitude de complacência", será difícil que o desenvolvimento avance na velocidade necessária.
Apesar das previsões otimistas, o encontro em Calgary ressaltou que o desenvolvimento na América Latina não avança na mesma velocidade para todos.
Um relatório publicado no domingo pelo BID divide a região em dois grupos diferenciados: o primeiro, comandado pelo Brasil e integrado pelos países da América do Sul, lidera o crescimento.
O segundo, com o México à frente, e integrado também pela América Central e pelo Caribe, progride a um ritmo mais lento.
A diferença entre eles reside, fundamentalmente, em se são ou não exportadores líquidos de matérias-primas, na natureza de seus fluxos comerciais, com maiores vantagens para os que têm vínculos mais estreitos com os países emergentes asiáticos.
Além disso, também sofrem a influência do papel das remessas em suas economias.
Moreno explicou em entrevista coletiva nesta segunda-feira que os resultados do relatório não significam que será aberta uma brecha cada vez maior na região e ressaltou a importância de se aprofundar a integração regional o que, segundo ele, traria "vantagens muito grandes".
Ele acrescentou que uma evidência dessas diferenças é que há um grupo de países, o liderado pelo México, que está mais integrado com os Estados Unidos e menos com outras partes do mundo.
Referiu-se à Colômbia, seu país de origem, que, segundo ele, estava muito centrado nos EUA, mas viu seu comércio crescer muito mais à medida que foi diversificando sua economia.
A assembleia do BID serviu para lembrar que a bonança econômica envolve alguns riscos como a inflação.
O diretor-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, lançou um aviso no sábado em Calgary, durante a reunião de ministros de Finanças das Américas, ao dizer que há "sinais preocupantes de superaquecimento" da economia em muitos países.
No mesmo sábado, o Instituto de Finanças Internacionais (IIF), que reúne mais de 400 bancos de todo o mundo, advertia que as crescentes pressões inflacionárias representam a principal ameaça para os Governos latino-americanos.
Segundo os especialistas, o risco de "aquecimento" é maior nos países da América do Sul, devido à combinação de altos preços das matérias-primas, grandes fluxos de capital e valorização de suas divisas.
Na Argentina, por exemplo, as projeções de IIF e grupos privados apontam que a inflação crescerá 30% este ano, contra o crescimento de 8,9% previsto pelo Governo.
Trata-se de um tema polêmico que o ministro da Economia do país, Amado Boudou, recusou acordar com a imprensa durante a reunião de Calgary.
"Eu não vou entrar em um debate com números que são ditos de qualquer maneira", afirmou Boudou visivelmente irritado durante uma entrevista coletiva no sábado, na qual qualificou como "descabelada" a crescente polêmica sobre a veracidade dos números oficiais.
Além desses debates, o BID aproveitou o encontro de Calgary para anunciar que espera duplicar o financiamento ao setor privado de modo que até 2015 os empréstimos e as garantias para empresas da região superem US$ 3 bilhões anuais.
A próxima assembleia anual do BID será realizada em Montevidéu (Uruguai).
O ministro da Economia do Uruguai, Fernando Lorenzo, agradeceu nesta segunda-feira a escolha de Montevidéu na entrevista coletiva conjunta com Moreno e celebrou que "a prosperidade econômica" esteja contribuindo para uma maior igualdade na região. EFE