Washington, 9 ago (EFE).- O Federal Reserve (Fed, banco central americano) reconheceu nesta terça-feira que a recuperação dos Estados Unidos será "mais lenta" que o esperado e anunciou que deve manter as taxas de juros próximas a zero "pelo menos até meados de 2013", em um gesto pouco habitual de precisão informativa.
A reunião do Comitê de Mercado Aberto do Fed, que a princípio havia sido considerada como rotineira, se tornou o centro das atenções após o rebaixamento por parte da Standard & Poors da qualificação da dívida dos EUA na noite da última sexta-feira e a consequente queda de Wall Street na segunda-feira.
Com os mercados dependentes do comunicado do organismo presidido por Ben Bernanke, o Fed decidiu dar um passo à frente e determinar prazos para sua política de taxas de juros (de entre 0% e 0,25%), em prática desde dezembro de 2008.
"O Comitê antecipa que as condições econômicas, inclusive a baixa taxa de utilização dos recursos e a perspectiva de inflação moderada a prazo médio, provavelmente mereçam níveis excepcionalmente baixos das taxas de juros pelo menos até meados de 2013", afirmou o Fed em comunicado.
Até agora, o banco central americano tinha guardado na manga a carta do "período extenso de tempo", expressão utilizada em todos seus comunicados desde 2008 para se referir à indefinida duração das extraordinariamente baixas taxas de juros.
No entanto, a mudança de tom no comunicado do Fed e o fato de estabelecer uma data tão exata têm uma dimensão fundamental, já que dá a entender que as perspectivas econômicas dos EUA são mais obscuras do que pareciam ser.
"O Comitê agora espera um ritmo de crescimento menor nos próximos trimestres do que previu na última reunião e antecipou que a taxa de desemprego diminuirá gradualmente", explicou o organismo.
O Fed já havia revisado anteriormente em duas ocasiões para baixo as previsões de crescimento dos EUA, que se situou o segundo trimestre do ano em 1,3%.
Além disso, e pela primeira vez desde que Bernanke assumiu o banco, a decisão registrou uma divisão no voto dos membros do Fed (sete votos a favor e três contra).
A decisão do Fed já era esperada pelos analistas, por considerar que o organismo tinha pouca margem de ação após concluir em junho sua segunda rodada de estímulo monetário durante a qual adquiriu US$ 600 bilhões em bônus do Tesouro.
Para justificar este anúncio, o organismo destacou que a maioria de seus membros considerou que "a inflação se estabilizará nos próximos trimestres ao nível ou abaixo da meta" de 2%.
Além disso, o Comitê Aberto do Fed destacou que havia discutido "uma ampla categoria de ferramentas para promover uma maior recuperação econômica" e disse que estava preparado para colocá-las em prática de "maneira apropriada".
Os mercados receberam nesta terça-feira com otimismo o anúncio do Fed, apesar de um primeiro momento de incerteza, e completaram uma jornada de fortes altas na qual o Dow Jones Industrial fechou com alta de 3,98%, na qual praticamente recuperou as perdas de segunda-feira.
No entanto, o ouro marcou um novo recorde de alta nesta terça-feira ao se situar em US$ 1.743 a onça em Nova York, o que mostra que a volatilidade dos mercados e a falta de confiança seguem marcando a turbulenta situação financeira internacional.
Após a boa reação dos mercados, a próxima aparição pública de Bernanke será no dia 26 de agosto em uma conferência em Jackson Hole, no estado de Wyoming, na qual está prevista que o presidente do Fed discuta junto com outros economistas modos de fazer com que as economias cresçam em longo prazo. EFE