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BC eleva Selic a 6,25% e prevê terceira alta seguida de 1 ponto em outubro

Publicado 22.09.2021, 20:23
© Reuters. Homem caminha em frente à sede do Banco Central em Brasília
29/10/2019
REUTERS/Adriano Machado
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Por Marcela Ayres

BRASÍLIA (Reuters) - O Banco Central aumentou a taxa básica de juros em 1 ponto percentual nesta quarta-feira, ao patamar de 6,25% ao ano, e indicou que irá avançar em "território contracionista" ao dar sequência ao seu agressivo ciclo de aperto monetário para domar uma inflação que tem se mostrado mais persistente e disseminada.

O BC sinalizou, em comunicado, que deverá adotar outro ajuste de igual magnitude na próxima reunião do Comitê de Política Monetária, em outubro. E adotou um tom mais assertivo ao frisar que sua intenção é avançar com os juros a patamar em que atuam no sentido de esfriar a economia para conseguir com isso conter a inflação.

Antes, o BC havia se limitado a dizer que era adequado levar a Selic para patamar acima do neutro.

"O Copom considera que, no atual estágio do ciclo de elevação de juros, esse ritmo de ajuste é o mais adequado para garantir a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante e, simultaneamente, permitir que o Comitê obtenha mais informações sobre o estado da economia e o grau de persistência dos choques", disse o Copom.

"Neste momento, o cenário básico e o balanço de riscos do Copom indicam ser apropriado que o ciclo de aperto monetário avance no território contracionista."

Em pesquisa Reuters, 25 dos 35 economistas ouvidos pela Reuters previram aumento de 1 ponto na Selic, enquanto oito projetaram elevação de 1,25 ponto. Os dois restantes estimaram alta de 1,5 ponto e de 0,75 ponto na Selic.

Esta foi a segunda vez seguida em que o BC ajustou a taxa básica nesta magnitude. Desde março, quando tirou a Selic da mínima histórica de 2% ao ano, o BC já subiu os juros básicos em 4,25 pontos, em cinco altas consecutivas.

Para o sócio e economista-chefe da Quantitas Asset, Ivo Chermont, o BC não pareceu ter um plano para levar a taxa básica além de 8,5%, nível apontado para o fim do ciclo de aperto em pesquisa Focus.

"Se isso é verdade, já estão abandonando 2022. Acho um erro. Como temos na Quantitas mais inflação que o mercado, acreditamos que o BC terá que seguir acima do que imagina hoje e encerrará o ciclo (com juro) próximo a 10%", afirmou.

A decisão do BC desta quarta-feira veio após o presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, indicar que a autoridade monetária não mudaria seu plano de voo a cada nova divulgação de dado de alta frequência, desfazendo parte das apostas no mercado sobre uma alta mais pronunciada na Selic após dados recentes de inflação terem surpreendido para cima.

LEIA MAIS: Selic será levada até onde for preciso para estabilização, afirma Campos Neto

O BC pontuou que a inflação ao consumidor segue elevada e que a alta em bens industriais deve prosseguir no curto prazo. Também destacou que os preços de serviços subiram a taxas maiores, embora tenha ponderado que o movimento era esperado em meio à gradual normalização da atividade no setor.

"Adicionalmente, persistem as pressões sobre componentes voláteis como alimentos, combustíveis e, especialmente, energia elétrica, que refletem fatores como câmbio, preços de commodities e condições climáticas desfavoráveis", destacou o BC.

Nos 12 meses até agosto, a inflação medida pelo IPCA bateu em 9,68%, se distanciando com força da meta central de 3,75%, com margem de erro de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.

Choques nos preços embalados por fatores como a crise hídrica e a alta do dólar frente ao real, que encarece produtos importados, têm afetado expectativas para este ano e também para o próximo.

O próprio BC passou a ver inflação de 8,5% em 2021, frente a 6,5% antes, conforme projeções divulgadas nesta quarta-feira para seu cenário básico.

Em relação aos anos de 2022 e 2023, que compõem o seu horizonte relevante para a política monetária, as expectativas do BC são agora de inflação de 3,7% e 3,2%, respectivamente, ante 3,5% e 3,2% anteriormente. A meta de inflação para 2022 é de 3,5% e para 2023 de 3,25%, sempre com banda de tolerância de 1,5 ponto.

Ao contrário do BC, que somente neste quarta-feira indicou o IPCA ligeiramente acima do centro da meta no ano que vem, o mercado há algum tempo passou a estimar esse avanço. No boletim Focus mais recente, feito pelo BC junto a uma centena de economistas, as expectativas para o IPCA eram de alta de 8,35% neste ano, 4,10% no ano que vem e 3,25% em 2023.

Para seus cálculos, o BC indicou que abandonou a hipótese neutra para a bandeira tarifária de energia, passando a adotar as bandeiras tarifárias "escassez hídrica" em dezembro deste ano e "vermelha patamar 2" em dezembro de 2022 e 2023. Antes, a indicação era de bandeira "vermelha patamar 1" em todos os três anos.

Atividade

Desde agosto, o BC vinha apontado a intenção de levar a Selic para além do patamar neutro, com a taxa encerrando o ciclo, portanto, em um nível em que atuaria para desaquecer a economia.

Mas os desafios para a autoridade monetária, que também abarcam o lado fiscal e acontecimentos no cenário externo, têm ganhado novos contornos.

Se no quadro doméstico pairam dúvidas sobre o comprometimento com a sustentabilidade das contas públicas diante da pesada conta de precatórios para 2022 e do desafio de financiamento do novo Bolsa Família, na cena internacional as incertezas têm aumentado em meio ao impacto da variante Delta do coronavírus.

No comunicado desta quarta-feira, o BC chamou a atenção para dois fatores adicionais de risco para o crescimento das economias emergentes: projeções de crescimento menor para economias asiáticas, exatamente por causa da variante Delta, e o aperto monetário conduzido em economias emergentes em reação a surpresas inflacionárias.

"No entanto, os estímulos monetários de longa duração e a reabertura das principais economias ainda sustentam um ambiente favorável para países emergentes", disse.

"O Comitê mantém a avaliação de que questionamentos dos mercados a respeito dos riscos inflacionários nas economias avançadas podem tornar o ambiente desafiador para países emergentes", completou.

© Reuters. Homem caminha em frente à sede do Banco Central em Brasília
29/10/2019
REUTERS/Adriano Machado

Sobre a economia brasileira, o BC indicou que a divulgação do PIB do segundo trimestre --com contração de 0,1% sobre os três meses anteriores-- "continua mostrando evolução positiva e não enseja mudança relevante para o cenário prospectivo".

Na visão do BC, o segundo semestre seguirá marcado por recuperação robusta do crescimento econômico. A última projeção para o PIB feita pela autoridade monetária era de alta de 4,6% este ano. O número poderá ser revisto no Relatório Trimestral de Inflação, que será publicado na próxima semana.

 

(Por Marcela Ayres, com reportagem adicional de José de Castro)

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