Por Jessica Bahia Melo
Investing.com - Com a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 9,68% na variação de doze meses finalizados em agosto, o presidente do Banco Central do Brasil (BCB), Roberto Campos Neto, sinalizou que a taxa básica de juros da economia (Selic) vai subir o quanto for preciso para que o indicador volte aos patamares previstos no regime de metas. A meta definida pelo Conselho Monetário Nacional é de 3,75% para o ano de 2021, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual. O presidente do BCB tratou do tema durante painel “Cenário Macroeconômico e Política Monetária no Brasil” no evento Macro Day, realizado pelo BTG Pactual (SA:BPAC11).
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De acordo com Campos Neto, o país nunca teve tantos choques consecutivos do mesmo lado [oferta], o que gerou uma inflação de curto prazo acima do esperado. A inflação nos serviços com o fim do isolamento já era antecipada, ao contrário dos problemas relacionados ao clima, como a onda de calor na América do Sul, as geadas e a falta de chuvas.
Na 240ª reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu elevar a taxa de juros em um ponto percentual para 5,25% ao ano. Com expectativas do mercado acima das do Banco Central, Campos Neto garantiu que o instrumento de controle da inflação será utilizado como for necessário.
“Quando a gente fala whatever it takes (o que custar) a gente tem um instrumento na mão que vai ser usado da forma como ele precisa ser usado e a gente entende que pode levar a Selic até onde precisar ser levada para que tenha convergência da meta. Isso não significa que o BC vai reagir a cada dado de alta frequência que sai. A gente tem um plano de voo que olha para o horizonte mais longo. Isso não significa que não vai atingir o objetivo de estabilizar e fazer a convergência de inflação lá na frente”, reforça.
Câmbio
Com o dólar sistematicamente acima de R$ 5, o presidente do BCB disse que o país está em um momento de fragilidade, mas que a maior desvalorização ocorreu no ano passado. Neste ano, há volatilidade, mas não uma tendência de alta do dólar. No entanto, segundo ele, "parte dessa volatilidade está relacionada à compra estrutural no final do ano” e o Banco Central terá de atuar frente a essa demanda pontual.
Inflação como fenômeno global
Durante a apresentação, Campos Neto comparou o cenário brasileiro com o global, destacando que a inflação não é problema apenas no país. O Brasil, segundo ele, estaria com indicador elevado, mas perto de países como Rússia e Índia.
A variante delta do coronavírus, o aumento nos preços com a retomada do setor de serviços após o isolamento e problemas na cadeia dos suprimentos afetam também outros países da América Latina e da Ásia. Esse fenômeno estaria demorando mais do que o esperado e deve continuar em 2022, ainda de acordo com Campos Neto.
“Quando a persistência aumenta em alguns componentes, também há uma pré-compra maior. A gente acha que vai ter uma normalização mais lenta, o que faz com que o processo inflacionário no mundo seja um pouco mais prolongado”, completa.