Manuela Astasio.
México, 10 jun (EFE).- Artesãs mexicanas elaboram acessórios de
design com embalagens desprezadas de chocolates e outros produtos,
graças a um projeto premiado este mês pelas Nações Unidas, cuja
renda sustenta uma comunidade de quase 100 famílias com poucos
recursos e uma escola para crianças.
A Fundação Mitz ('para ti' na língua nahuátl) administra esta
iniciativa, que conjuga o comércio justo e as energias renováveis
com a contribuição de autossuficiência e educação em uma região
desfavorecida de Huixquilucan, na periferia da capital mexicana, um
município em que casas de luxo convivem com casas que não tem nem
esgoto.
Recém-chegada de Ruanda, onde recebeu o prêmio da ONU de 'Melhor
projeto reciclador de resíduos industriais' no dia 3 de junho, sua
fundadora, Judith Achar, explicou o projeto à Agência Efe.
"Por um lado, tornamos as pessoas produtivas e responsáveis pelo
seu desenvolvimento. E, por outro, nossa coluna vertebral é um
processo ecológico e que respeita o planeta", declarou.
A Casa de los Niños de Palo Solo, uma das poucas escolas
Montessori do México que atende a crianças com poucos recursos, foi
construída há mais de 20 anos sobre um depósito de lixo.
As mães dos alunos, preocupadas com sua situação econômica e por
não poder pagar a mensalidade, buscaram uma forma criativa de
fornecer fundos à escola. E o lixo que um dia ocupou o terreno desta
escola acabou sendo a resposta.
Uma velha técnica nahuátl para tecer folhas de palma, já aplicada
a materiais de resíduos por mulheres da área, permitiu a Mitz
reciclar 40 toneladas de resíduos industriais ao longo de sua
história.
Cada mês saem de Huixquilucan entre duas mil e três mil bolsas,
agendas, estojos para maquiagem, estojos e capas para móveis, cada
vez mais vendidos nos Estados Unidos e vários países da Europa, onde
o comércio justo, lembra Achar, "é muito aplaudido".
Os preços das peças variam entre os duzentos e os 1,8 mil pesos
(entre US$ 15 e US$ 140).
"Os donativos e a caridade são bens finitos, e que dependam deles
não encontrará um futuro. Por isso, as instituições sociais têm que
ser co-participantes da geração de seus próprios recursos",
refletiu.
Este princípio de auto-suficiência é o mesmo sobre o qual, com
base nas doutrinas da educadora italiana María Montessori, foi
construída a Casa de los Niños de Palo Solo.
Em suas salas de aula iluminadas, 250 crianças de todas as idades
aprendem em um ambiente de respeito à individualidade, no qual cada
um pode decidir, desde cedo, se prefere dedicar a manhã à geografia
ou à matemática.
Uma criança descasca laranjas para o café da manhã e outro se
esforça para limpar o vidro da porta da sala enquanto suas
companheiras aprendem a tabuada com os ábacos desenhados por
Montessori, tão coloridos como os produtos que suas mães tecem.
O valor das vendas dos acessórios retorna 100% à comunidade. A
metade volta para as artesãs, 20% se destina à escola, outro tanto
financia a manufatura e 10% custeiam as despesas da operação.
O impacto deste projeto chega a "muito mais pessoas do que as que
estão registradas na cooperativa", explica Achar.
Alcança, por exemplo, às empresas que doam os resíduos (Mars,
PepsiCo, Pedigree, Starbucks, entre outras), que adquirem
responsabilidade social, e também os familiares das artesãs, que as
apóiam a iniciativa a partir de suas casas.
"Se entrássemos pela tarde em suas casas, encontraríamos os pais,
mães, maridos, avós e filhos trabalhando ao redor da mesa", assegura
a criadora da iniciativa.
Por enquanto, as bolsa e os porta-moedas trançados forneceram 2,5
mil bolsas de estudos à escola, além de "dignidade", um valor que
pinga em todas as salas de aula e que Achar quer que as crianças
ensinem a suas famílias.
O responsável do Mitz quer que as doações aumentem mês a mês e,
para isso, trabalha agora na comercialização destes produtos em
lojas de aeroportos do México e na reprodução deste modelo em outras
comunidades.
O som da aula de música chega à biblioteca da escola. Frente às
estantes repletas de livros, um cartaz com a frase "O povo que lê é
um povo rico". EFE