Frankfurt, 10 mai (EFE).- As bolsas europeias reagiram hoje com
altas espetaculares ao plano de estabilidade aprovado de madrugada
pelos ministros de Economia e Finanças da União Europeia (UE) em
Bruxelas para garantir a solvência da zona do euro e da moeda única.
A bolsa de Madri disparou 14,43%, a maior alta da história do
mercado de valores espanhol. O índice de referência Ibex-35 subiu
1.305,80 pontos, fechando aos 10.351,90, diminuindo as perdas anuais
para 13,3%.
No caso de Lisboa, o aumento foi de 10,37%, uma alta também
insólita que os analistas atribuíram não apenas à criação desse
fundo de resgate, mas também ao compromisso de Portugal em combater
com mais eficácia o déficit público.
A Espanha também se comprometeu no curso das negociações em
Bruxelas a acelerar as medidas de redução do déficit, ação que a
ministra da Economia espanhola, Elena Salgado, deverá detalhar antes
do próximo dia 18.
O resultado positivo se repetiu em Milão, cujo índice FTSE MIB
registrou alta de 11,28%, fechando aos 20.971,21 pontos. Já em
Paris, o CAC-40 ganhou 9,66%, aos 3.720,29 pontos.
No mercado londrino, o índice FTSE-100 avançou 5,16%, encerrando
aos 5,387.42 pontos, enquanto o DAX-30 de Frankfurt subiu 5,30%,
batendo os 6.017,91 pontos.
Todos os mercados europeus, especialmente os financeiros, se
beneficiaram da ação de choque idealizada em Bruxelas contra os
ataques especulativos da semana passada, mas os dirigentes
comunitários advertiram que ainda é cedo para comemorar, pois, para
medir o efeito do plano, é preciso esperar semanas.
O plano, de 750 bilhões de euros, contará com a contribuição do
Banco Central Europeu, que fará novas injeções de liquidez na
economia europeia, a reativação da troca de divisas (créditos
"swap") com outros bancos centrais e a compra direta de títulos da
dívida pública e privada.
Esta última medida, descartada pelo presidente do BCE,
Jean-Claude Trichet, após a reunião realizada na quinta-feira
passada em Lisboa pelo conselho do Governo da autoridade monetária,
suscitou dúvidas sobre a independência do banco, enquanto a medida
não figura no catálogo de instrumentos do BCE.
De Basileia, onde participou de uma reunião do Banco
Internacional de Pagamentos, Trichet negou que o BCE tenha cedido a
pressões políticas ou alterado seus objetivos, que continua sendo,
segundo ele, a estabilidade de preços.
No entanto, o presidente do banco central alemão (Bundesbank) e
membro do Conselho do BCE, Axel Weber, foi "crítico" com a compra
direta de títulos da dívida pública dos países mais expostos aos
ataques especulativos, seja na Grécia, Espanha ou Portugal, enquanto
esta ação pode aumentar os riscos da estabilidade.
"Não vamos modificar a política monetária por esta ação
extraordinária. A população alemã deve ter certeza que estaremos
muito atentos. O Bundesbank e o conjunto da zona do euro preza pela
estabilidade de preços na união monetária agora e no futuro", disse
Weber.
O economista alemão Jörg Krämer, do Commerzbank, se manifestou na
mesma linha ao assinalar que, "com a compra direta da dívida
pública, o BCE parece interessado, sobretudo, em assegurar o bom
funcionamento do mercado".
A aquisição de dívida começou hoje mesmo, mas nem o BCE nem os
bancos centrais do sistema do euro revelaram detalhes a respeito.
A euforia dos mercados europeus foi notada em Wall Street e em
menor medida no mercado de divisas, onde o euro, após uma forte alta
no meio do pregão, acabou caindo em seguida.
A moeda europeia, que ao meio-dia chegou a valer US$ 1,30, fechou
cotada a US$ 1,2857, frente aos US$ 1,2720 de sexta-feira. O Banco
Central Europeu fixou hoje o câmbio oficial do euro em US$ 1,2969.
"O guarda-chuva de resgate para os países da zona do euro com
finanças fracas é maiúsculo e teve efeitos positivos no mercado,
apesar do nervosismo não ter desaparecido", afirmou o chefe de
divisas do banco regional BayernLB, Marc Burgheim. EFE