Londres, 12 mar (EFE).- O primeiro-ministro do Reino Unido,
Gordon Brown, e o presidente francês, Nicolas Sarkozy, anunciaram
hoje que se trata de uma questão de dias até que os governos cheguem
a um acordo sobre a futura regulação dos mercados financeiros na
União Europeia (UE).
"Podemos chegar a uma solução para esse assunto nos próximos
dias", disse Brown em referência ao estabelecimento de regras
comunitárias para a regulação dos fundos de alto risco (hedge funds)
e os fundos de capital de risco, assim como para incentivar a
imposição de uma taxa global aos bancos.
Os governantes falaram à imprensa após se reunirem no número 10
de Downing Street (residência oficial do primeiro-ministro
britânico) e destacaram o fortalecimento da relação bilateral entre
Londres e Paris.
Sarkozy explicou que os dois países estão trabalhando em conjunto
para "tentar encontrar um ponto de equilíbrio que permita regular e
garantir a transparência, evitar os riscos do sistema e garantir que
a City (o centro financeiro de Londres), um ativo principal para a
Europa, não se sinta ameaçada ou danificada".
No entanto, o líder francês reconheceu que eles ainda não
encontraram uma fórmula que agrade a todos.
Brown, que fez da necessidade de propiciar um maior controle das
transações financeiras um dos eixos centrais de sua política
econômica após a crise de 2008, destacou que a futura regulamentação
deverá atender a dois princípios fundamentais.
Por um lado, deverá "proteger os interesses gerados pelo setor
dos serviços financeiros" e, por outro, a futura prosperidade da
City, um dos principais pulmões econômicos do Reino Unido e, por
extensão, da UE.
No terreno político, Sarkozy considerou essencial o envolvimento
do Reino Unido na tomada de decisões dos 27 membros da comunidade
européia e ressaltou a fortaleza das relações franco-britânicas.
O presidente francês lembrou que não viajou a Londres para falar
da política interna do Reino Unido, uma vez que faltam poucas
semanas para os cidadãos britânicos irem às urnas, mas insistiu na
necessidade de um Governo britânico "europeísta".
"Continuo a acreditar que a posição de nossos amigos britânicos
está no centro da Europa. Precisamos deles", disse Sarkozy. Ele
lamentou a decisão tomada pelos conservadores britânicos no ano
passado, liderados por David Cameron, de sair do grupo parlamentar
do Partido Popular Europeu (PPE) para se unir a grupos euro-céticos.
Antes de abandonar a capital britânica, Sarkozy também se
encontrou com Cameron, em sua primeira reunião desde 2008.
Nas últimas semanas, o Partido Conservador britânico tentou
mostrar uma feição menos euro-cética. A idéia é assegurar que, caso
ganhe as eleições gerais, que serão realizadas antes do dia 3 de
junho, não voltará às batalhas travadas pelos Governos conservadores
contra Bruxelas nos anos 1980 e 1990.
O responsável pelas Relações Exteriores do Partido Conservador,
William Hague, afirmou nesta quarta-feira que a legenda incentivará
o Reino Unido a desempenhar "um papel de liderança" na União
Europeia (UE).
Em uma tentativa de tranquilizar os Governos de outras capitais
européias, Hague assegurou que eles desenvolverão energicamente as
relações com o restante dos membros da comunidade européia. O
partido está convicto de que a UE é, obviamente, uma instituição de
enorme importância para o Reino Unido e sua política externa.
Brown evitou falar sobre a política dos conservadores com relação
a Bruxelas e se limitou a assinalar que as relações entre Londres e
Paris atravessam seu melhor momento desde a Segunda Guerra Mundial.
"A fortaleza de nossa relação, e da relação entre nossos países,
é que estamos trabalhando mais em acordo do que nunca sobre os
principais desafios enfrentados pelo mundo", manifestou o líder
trabalhista britânico, que usou como exemplo o acordo bilateral para
renovar a cooperação em assuntos nucleares.
Os governantes também coincidiram na crítica ao governo
americano, acusado de favorecer uma empresa nacional (Boeing) na
obtenção de um contrato multimilionário com a Força Aérea, em
detrimento de um consórcio europeu.
Nas palavras do presidente francês, "esta não é a maneira correta
dos Estados Unidos tratarem seus aliados europeus. Se eles querem
ser os líderes da luta contra o protecionismo, não deveriam fazer
isso". EFE.