Ramón Santaularia.
Atenas, 7 mai (EFE).- A cidade de Atenas voltou à normalidade
hoje depois de dois dias de violentos protestos, mas a crise da
dívida grega manteve o nervosismo nos mercados financeiros, ainda
não convencidos de que um pacote milionário de ajuda à Grécia
evitará o contágio a outros países da zona do euro.
Uma prova desta falta de convicção foi a rentabilidade dos
títulos soberanos gregos para dez anos, que disparou hoje até
12,40%, com um diferença de 962 pontos básicos em relação ao Bund
alemão.
Além disso, o euro teve sua maior desvalorização em relação ao
dólar em 14 meses, abaixo de US$ 1,27, devido ao ambiente negativo
geral nos países usuários da moeda europeia em relação à dívida.
As bolsas de todo o mundo funcionaram como termômetro da guerra
de nervos, o que se refletiu em fortes baixas, em alguns casos
difíceis de explicar com os fundamentos econômicos dos países cujos
mercados se viram mais afetados.
A tumultuosa aprovação pelo Parlamento grego ontem de um plano de
austeridade de três anos, com uma economia de 30 bilhões de euros,
graças a maioria absoluta do Governo socialista, era imprescindível
para a liberação da ajuda de 110 bilhões de euros que virão dos
cofres do Fundo Monetário Internacional (FMI) e dos países da zona
do euro.
As características da assistência serão discutidas hoje em
Bruxelas em reunião extraordinária de chefes de Estado e Governo da
zona do euro, que podem também debater um futuro cumprimento mais
rígido dos critérios que regem os membros da moeda única.
A dívida grega, de mais de 270 bilhões de euros, cerca de 115% de
seu Produto Interno Bruto (PIB), suscitou sérios temores sobre uma
quebra do país.
Como se as adversidades econômicas fossem poucas, o Escritório
Nacional de Estatística grego (NSS) anunciou hoje que o índice de
inflação em abril subiu para 4,8%, o triplo da média da zona do euro
e a mais alta desde agosto de 2008, devido aos crescentes preços dos
combustíveis e ao aumento dos impostos, parte das medidas
governamentais de austeridade.
Analistas gregos consultados pela Agência Efe comentaram que as
medidas restritivas para controlar o gasto público podem asfixiar a
economia, que fecharia 2010 com uma contração de até 5%.
Além disso, há o temor de que o corte salarial para os
funcionários públicos, de até 30%, e de outros setores, assim como a
maior cargas tributária, repercutam muito negativamente no consumo
interno.
No plano político, o Governo grego já se resignou a ceder parte
de sua soberania aos organismos supervisores que revisarão o
cumprimento do plano de austeridade.
O FMI elaborou um esquema para o pacote de resgate que
possibilitará à Grécia permanecer fora dos mercados durante mais de
18 meses, até 2012, o que permitirá o pagamento de sua dívida, em
parte, voltando a conseguir o crescimento econômico, segundo
Caroline Atkinson, porta-voz da organização.
A volta à normalidade na Grécia após semanas de protestos, que
culminaram na quarta-feira com a morte de três pessoas e dezenas de
feridos entre manifestantes e policiais, é agora uma prioridade para
o Governo.
O enterro hoje e amanhã dos três funcionários de uma agência
bancária de Atenas, um deles uma mulher de 32 anos grávida de quatro
meses, que morreram asfixiados em um incêndio provocado por um
coquetel molotov lançado por manifestantes, terá apenas a presença
de familiares. EFE