Por Claudia Violante
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar encerrou a quinta-feira em alta ante o real, na maior cotação em quase dois meses, com os investidores cautelosos sobre os próximos passos da reforma da Previdência, um dia após a comissão especial da Câmara ter aprovado o texto-base, e acompanhando a valorização da moeda no exterior.
O dólar avançou 0,77 por cento, a 3,1827 reais na venda, maior nível de fechamento desde os 3,1947 reais registrado em 9 de março passado. Na máxima da sessão, marcou 3,1961 reais. O dólar futuro tinha alta de 0,58 por cento.
"O texto passou, mas o governo teve que negociar muito para chegar onde chegou, fez muitas concessões. Há preocupação agora com o que vai ter que ceder para conseguir aprovar em plenário", comentou a diretora de câmbio da AGK Corretora, Miriam Tavares.
Na noite passada e após flexibilizações e horas de debate, a comissão especial da reforma da Previdência aprovou o texto-base da proposta, considerada essencial para colocar a economia nos eixos, mas o placar não indicou vitória com folga mais à frente no plenário da Câmara dos Deputados. A avaliação política é de que o governo do presidente Michel Temer ainda não tem maioria para garantir vitória na Casa.
O texto foi aprovado por 23 dos 37 integrantes da comissão, o equivalente a 62 por cento dos votos. Por se tratar de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), no plenário da Câmara são necessários 308 votos favoráveis em dois turnos de votação para aprová-la, ou 60 por cento dos deputados.
A comissão especial ainda precisa votar os destaques ao texto principal, o que pode abrir mais concessões ainda ao texto original. O Palácio do Planalto decidiu esperar a votação da reforma trabalhista pelo Senado para só então tentar aprovar a Previdência, disseram à Reuters fontes palacianas na véspera.
Em evento em São Paulo nesta quinta-feira, o Ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, defendeu que o projeto não seja "fundamentalmente" alterado daqui para a frente. Segundo ele, as alterações que já ocorreram estão dentro de nível previsto.
A valorização do dólar ante o real também foi influenciada pelo mercado externo, em dia de forte recuo dos preços das commodities e após o Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos, ter deixado a porta aberta para aumento dos juros já em junho. O dólar subia ante divisas de países emergentes, como os pesos chileno e mexicano e o rand sul-africano.
"(O Fed) considerou transitória a fraqueza do crescimento dos EUA do primeiro trimestre e elogiou o estreitamento do mercado de trabalho. Como resultado, o mercado de títulos aposta num aumento dos juros em junho", avaliou o banco suíço Julius Baer em comentário assinado pelo chefe do departamento de pesquisa de renda fixa, Markus Allenspach.
Ante uma cesta de moedas, bastante exposta ao euro, entretanto, o dólar caía 0,5 por cento.
O euro subia ante o dólar depois que o candidato de centro na eleição presidencial francesa Emmanuel Macron foi considerado vitorioso no debate com Marine Le Pen antes da disputa em segundo turno neste fim de semana. À tarde, o euro atingiu a máxima de quase seis meses contra o dólar depois que a Câmara dos EUA aprovou o fim do Obamacare.
A expectativa é de que a cautela predomine nos próximos dias, mas os investidores podem respeitar o patamar psicológico de 3,20 reais.
"O mercado tem se autorregulado. Mas mesmo que feche acima desse nível, isso não deve desencadear uma atuação do Banco Central. Não temos visto falta de moeda no mercado", acredita o diretor de operações internacionais do Banco Paulista e da Socopa, Tarcísio Rodrigues.
O Banco Central brasileiro não anunciou qualquer intervenção no mercado de câmbio para esta sessão. Em junho, vencem 4,435 bilhões de dólares em swap cambial tradicional, equivalente à venda futura de dólares.