Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) -O dólar caía acentuadamente frente ao real nesta sexta-feira, revertendo ganhos da véspera após tentativas do governo eleito de tranquilizar os mercados quanto ao risco de descontrole fiscal sob a gestão de Luiz Inácio Lula da Silva, enquanto a possibilidade de a PEC da Transição ser enxugada no Congresso fornecia alívio adicional.
Às 10:07 (de Brasília), o dólar à vista recuava 1,27%, a 5,3380 reais na venda.
Na B3 (BVMF:B3SA3), às 10:07 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 1,67%, a 5,3540 reais.
A queda vem depois de, na véspera, a moeda norte-americana à vista ter chegado a disparar acima de 5,50 reais em resposta à minuta da PEC da Transição. O texto apresentado embutiu proposta de excepcionalizar 175 bilhões de reais do teto de gastos para o pagamento do Bolsa Família por tempo indeterminado.
"Após uma forte reação negativa dos mercados em relação ao texto proposto pela PEC de Transição, o Congresso parece emitir sinais de que irá tentar limitar as medidas propostas pelo novo governo", disse Dan Kawa, CIO da TAG Investimentos.
Fontes envolvidas nas negociações da PEC ouvidas pela Reuters disseram que aliados do novo governo admitem que terão de ceder durante as negociações do texto e definir um prazo da exceção ao teto para que a proposta avance a tempo de ser promulgada pelo Congresso ainda neste ano.
Além disso, "na direção de acalmar o mercado, membros do novo governo, como o vice-presidente eleito, vieram a público declarar o apoio do governo ao ajuste fiscal. A despeito das falas mais agressivas do presidente eleito... claramente há um incomodo de alas da República com relação à PEC apresentada", acrescentou Kawa em nota a clientes.
O vice-presidente eleito Geraldo Alckmin afirmou na quinta-feira que a reação do mercado à PEC da Transição é momentânea e será superada, e garantiu que o governo Lula vai discutir um novo arcabouço fiscal com o tempo.
Já o ex-ministro Aloizio Mercadante, que coordena os grupos técnicos da transição de governo, acenou a cortes de despesas e disse que a revisão de isenções fiscais pode ser uma maneira de elevar as receitas futuras da administração federal sem aumento da carga tributária.
Investidores também reagiam positivamente ao afastamento do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega da equipe de transição de Lula. Mantega tem pouca credibilidade com os mercados financeiros, principalmente por conta de medidas fiscalmente heterodoxas adotadas por ele durante o governo da ex-presidente Dilma Roussef.
Apesar do alívio no humor dos investidores domésticos nesta sexta-feira, "a preocupação fiscal continua, com o mercado à procura de sinais como contrapartidas para esses gastos", disse em publicação no Twitter Jerson Zanlorenzi Jr., responsável pela mesa de ações e derivativos do BTG Pactual (BVMF:BPAC11). "Se não tem fonte de receita, (o país) terá maior endividamento e precisará de mais juros."
Enquanto isso, no exterior, o índice que compara o dólar a uma cesta de seis pares fortes caía ligeiramente nesta manhã, pausando um rali recente provocado por temores de que o Federal Reserve siga com uma postura muito agressiva no aperto da política monetária.
(Edição de Camila Moreira)