Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar fechou em alta frente ao real nesta sexta-feira, acumulando ganhos na semana, com investidores reagindo a novo revés nas negociações para subir o teto da dívida norte-americana, enquanto digeriam sinais misto do chair do Federal Reserve, Jerome Powell.
A moeda norte-americana à vista avançou 0,53%, a 4,9949 reais na venda, maior cotação de encerramento desde 8 de maio (5,0150). Em relação ao fechamento da última sexta-feira, o dólar subiu 1,48%, embora essa tenha sido apenas a segunda alta semanal das últimas nove semanas.
Depois de abrir em leve baixa --segundo Márcio Riauba, gerente da mesa de operações da Stonex, provável reflexo de uma contração menor do que a esperada no índice de atividade do Banco Central (IBC-Br) de março--, o dólar ganhou fôlego já nos primeiros negócios e passou a maior parte do pregão em alta, mostrando forte volatilidade.
"Um contraponto que ainda não tem uma definição até o momento: não houve (resolução) referente ao teto da dívida dos Estados Unidos; é um impasse gigantesco... e isso é um fato de preocupação", afirmou Riauba.
As negociações entre os republicanos da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos e o governo do presidente democrata Joe Biden sobre o aumento do teto da dívida de 31,4 trilhões de dólares do governo norte-americano foram interrompidas, disse o principal negociador republicano nesta sexta-feira.
No exterior, em um sinal de aversão a risco, várias divisas emergentes pares do real reverteram ganhos iniciais e passaram a cair frente ao dólar nesta sexta-feira, com destaque para pesos mexicano e chileno e rand sul-africano.
O índice do dólar contra uma cesta de pares fortes, no entanto, recuava cerca de 0,35%, o que, segundo alguns participantes do mercado, ajudou o real a encerrar o pregão um pouco acima das mínimas do dia, quando chegou a ser negociado em 5,0033 por dólar.
Segundo Bruno Perottoni, diretor de tesouraria do Braza Bank, alguns comentários de Powell ajudaram a sustentar o humor do mercado global, principalmente depois de ele sugerir que o juro básico norte-americano talvez não precise avançar tanto quanto se pensava por conta da contração da oferta de crédito.
Ainda assim, o chair do Federal Reserve disse que ainda não está claro se a taxa básica de juros dos Estados Unidos precisará subir ainda mais, conforme autoridades do banco central avaliam a incerteza sobre o impacto de aumentos anteriores nos custos de empréstimos.
Juros mais altos normalmente tendem a impulsionar a moeda local, uma vez que tornam os retornos do mercado de renda fixa do país em questão mais atraentes para investidores estrangeiros. Da mesma forma, reduções nos juros podem levar a um redirecionamento de recursos para países mais rentáveis.
Na cena doméstica, investidores continuaram monitorando a tramitação do arcabouço fiscal na Câmara dos Deputados, enquanto acompanharam falas do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em evento do Banco Central.
O ministro voltou a dizer que há espaço para cortes de juros no Brasil e argumentou que debater essa possibilidade não significa afrontar a autoridade monetária, ao mesmo tempo que defendeu novamente uma revisão no prazo de cumprimento das metas de inflação.
Apesar do salto desta semana, o dólar ainda está em patamares considerados mais baixos, em torno da faixa de 5 reais, e acumula queda de mais de 5% até agora em 2023. A divisa tem sido pressionada, em grande parte, pelo nível elevado da taxa Selic, de 13,75%, embora parte dos mercados também cite alguma redução de temores fiscais com a apresentação do novo arcabouço para as contas públicas.
Já Robin Brooks, economista-chefe do Instituto de Finanças Internacionais, acredita que os movimentos do real têm tido relação mais estreita com fatores externos, como a inflação norte-americana e as expectativas sobre a política monetária do Fed.