Por José de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar fechou em alta nesta terça-feira, com o real destoando de pares e mostrando o pior desempenho global nesta sessão, à medida que investidores colocaram nos preços receios fiscais em meio ao agravamento da pandemia.
O dólar negociado no mercado à vista subiu 0,78%, a 5,3461 reais na venda. Na mínima, a cotação cedeu 1,17%, a 5,2429 reais.
No exterior, o índice do dólar frente a uma cesta de moedas caía 0,29%.
A escalada dos casos de Covid-19 e a elevação do tom político decorrente voltaram a alimentar no mercado especulações sobre gastos renovados para debelar um enfraquecimento da economia, oriundo em parte do fim do auxílio emergencial.
Notícias desta terça-feira apontaram que o Ministério da Economia tem sentido a pressão por mais despesas no governo, e a queda de popularidade do presidente Jair Bolsonaro é vista como um fator a endossar essa percepção, já que deixaria o governo mais propenso a propor novas medidas de auxílio.
"Esperamos que o governo comece com medidas com impacto fiscal neutro... embora medidas com impacto fiscal também sejam provavelmente introduzidas, esperamos que sejam menores em tamanho e duração do que no ano passado", disseram em nota Gustavo Arruda e Samuel Castro, do BNP Paribas. O banco piorou a projeção para déficit primário em 2021, de 3,0% do PIB para 4,5%.
O profissional de uma gestora em São Paulo disse ainda que o real sofreu nesta terça com a leitura de que o processo vacinal no Brasil ainda será demorado, o que poderá arrastar ainda mais o início de uma firme retomada econômica doméstica. "A Índia começar a exportar vacina e não exportar para cá" pesou nos mercados, disse.
Ao longo da sessão, o mercado acompanhou a fala de Janet Yellen, indicada pelo presidente eleito dos EUA, Joe Biden, para o cargo de secretária do Tesouro. Para ela, o valor do dólar norte-americano deve ser determinado pelos mercados e a adoção de metas de taxas de câmbio por outros países para obter vantagens comerciais é "inaceitável".
Na quarta, a atenção dos agentes financeiros se volta para o Banco Central, com expectativa de que a autoridade monetária abandone o compromisso de deixar os juros estáveis sob determinados critérios diante da aceleração da inflação.
O entendimento é que retirar o "forward guidance" da comunicação seria o primeiro passo para se vislumbrar alta da Selic, o que poderia dar algum suporte ao câmbio. Segundo analistas, um dos motivos para a pressão sobre o real é o juro em patamar muito baixo, que deixa a moeda mais vulnerável a operações de hedge ou de financiamento para apostas em outras divisas.
A Selic está em 2% ao ano, mínima histórica, e o Copom anuncia sua decisão na quarta-feira após o fechamento dos mercados.