O dólar fechou a sexta-feira em alta, em sessão marcada por fuga de ativos de risco no mercado internacional e aumento da tensão política no Brasil. Nos últimos cinco dias, porém, o dólar acumulou queda de 2,1%, interrompendo uma sequência de quatro semanas consecutivas de valorização. Os casos de coronavírus seguem crescendo no Brasil e no mundo, o processo de vacinação tem sido lento e nem começou por aqui, o que ajuda a limitar a melhora do real, além do risco fiscal e do cenário político que está piorando após a situação de caos no Amazonas. No exterior, cresceu o temor de que o presidente eleito Joe Biden tenha dificuldade de aprovar o pacote fiscal de US$ 1,9 trilhão que anunciou na quinta-feira.
O dólar fechou a semana em R$ 5,3042, na máxima do dia, em alta de 1,81% nesta sexta-feira. No mercado futuro, o dólar para fevereiro subiu 1,84%, cotado em R$ 5,2935.
A sexta-feira, que antecede final de semana prolongado nos Estados Unidos, com feriado na segunda, dia de Martin Luther King, foi marcada por noticiário negativo, com indicadores econômicos fracos da economia americana e do Brasil, número de mortes por coronavírus no mundo superando 2 milhões e, no mercado interno, preocupações com a situação crítica dos hospitais em Manaus, além da piora política gerada pela situação, com a convocação de protestos contra Jair Bolsonaro na noite de sexta e troca de farpas entre ele e o governador João Doria (PSDB).
A Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou na tarde desta sexta que, se a situação continuar como está na região Norte do Brasil, "veremos uma catástrofe no Amazonas em abril e maio", de acordo com o diretor de emergências da entidade, o irlandês Michael Ryan.
"Os ruídos políticos no Brasil podem estar apenas começando", avaliam os gestores da BlueLine Asset Management, destacando que, com piora aguda da covid-19, dificuldades de organização de um plano de vacinação e recrudescimento das pressões para mais gastos públicos, a situação pode se agravar, embora o exterior tenda a continuar mais favorável.
A economista-chefe da Armor Capital, Andrea Damico, destaca que tem havido fluxo externo de recursos para o Brasil, mas que não tem sido suficiente para ajudar a valorizar o real de forma sustentada, por causa do risco fiscal. O governo tem emitido sinais complicados, disse ela, destacando que eles têm trazido intranquilidade ao mercado, mostrando falta de convicção com as reformas, além de ingerências na Petrobras (SA:PETR4), ao não aumentar os preços dos combustíveis nos últimos dias, e no Banco do Brasil (SA:BBAS3), quando Bolsonaro mostrou insatisfação com decisões do presidente André Brandão de corte de funcionários e de agências. Também tem crescido a pressão por estender o auxílio emergencial.
No exterior, o anúncio por Joe Biden do pacote de estímulos de US$ 1,9 trilhão foi recebido com cautela pelos participantes do mercado e cresceu o temor de que o presidente eleito tenha dificuldade de aprová-lo, mesmo com os democratas controlando o Congresso. "O programa quase certamente terá de ser reduzido significativamente para ser aprovado", afirmam os estrategistas do canadense TD Securities, prevendo que o pacote de socorro deve ficar mais perto de US$ 800 bilhões.