SÃO PAULO (Reuters) - O dólar ganhava terreno ante o real na manhã desta quarta-feira, com investidores ainda ressabiados depois de um começo de semana de forte instabilidade por renovados temores sobre impactos econômicos da Covid-19 pelo mundo e atentos ainda ao desenrolar em Brasília sobre o fundo eleitoral.
Às 9h46, o dólar à vista subia 0,48%, a 5,2557 reais. A moeda brasileira estava entre os piores desempenhos globais nesta sessão.
Lá fora, a divisa seguia em sua marcha ascendente, com o índice do dólar frente a uma cesta de rivais em alta de 0,15%. O dólar subia ante várias divisas de risco e/ou ligadas a commodities.
A moeda dos EUA operava nas máximas em três meses e meio contra seus pares mais diretos, enquanto no Brasil a queda da cotação na véspera compensou apenas uma fração da forte alta de segunda-feira, o que sinaliza manutenção de prêmio de risco no câmbio diante do aumento das incertezas sobre os rumos da economia global.
O dólar caiu 0,35% na terça, depois de saltar 2,59% na segunda.
"É uma volatilidade que atrapalha qualquer (fundo) multimercado, qualquer 'case' construtivo para o Brasil", disse Roberto Motta, responsável pela mesa de derivativos da Genial Investimentos.
"Por mais que você diga que os fundamentos da moeda permanecem fortes --com termos de troca, commodities nas máximas históricas, expectativas de entrada de recursos dos 'follow-ons'...--, nas duas vezes recentes esse 'case' construtivo acabou tendo um prejuízo bastante razoável", afirmou Motta, referindo-se também à alta de 2,40% do dólar em 6 de julho.
Segundo ele, há expectativa de que a oferta pública de ações da Raízen, que pode somar 6,9 bilhões de reais, tenha 50% de sua demanda vinda de estrangeiros.
O dólar futuro sobe 7,4% desde que atingiu uma mínima abaixo de 4,90 reais em 25 de junho.
Enquanto isso, o real segue como a moeda mais volátil dentre as principais. A volatilidade implícita nas opções de dólar/real para três meses --uma medida do grau de incerteza sobre a taxa de câmbio-- estava em 16,7% ao ano, marcadamente acima da volatilidade atribuída à instável lira turca (14,8%).
No plano local, as atenções dos agentes financeiros se voltam para possíveis "arranhões" nas relações entre Executivo e centrão em torno do fundo eleitoral, com potenciais riscos ao andamento da agenda de reformas.
Na terça, o presidente Jair Bolsonaro reforçou que vai vetar o novo fundo partidário de 5,7 bilhões de reais, destacando a "harmonia entre os Poderes" e o "respeito ao povo brasileiro".
No que foi citado já como articulação para manter as bases no Congresso, Bolsonaro disse durante entrevista a uma rádio nesta quarta-feira que deve fazer novas mudanças em seu ministério na próxima semana.
(Por José de Castro)