Virginia Hebrero.
Madri, 17 nov (EFE).- A três dias das eleições gerais, que devem emplacar uma maioria absoluta de parlamentares oposicionistas, a Espanha voltou a sofrer nesta quinta-feira a pressão dos mercados financeiros sobre a dívida pública do país, o que levou sua taxa de risco a atingir recordes históricos.
Desde a abertura do mercado da dívida, a taxa de risco espanhola - que mede o diferencial entre o bônus nacional a dez anos e o referencial alemão de mesmo prazo - registrava um nível recorde desde a criação da zona do euro, até quase bater a barreira simbólica dos 500 pontos básicos.
Mas, ao longo do pregão no mercado financeiro, o índice começou a cair graças à compra de bônus espanhóis e italianos por parte do Banco Central Europeu (BCE). A taxa chegou a 460 pontos básicos.
Embora o bônus espanhol não fosse nem o único nem o mais pressionado pelos especuladores, o fato de se aproximar dos 500 pontos básicos - fato que obrigou o Tesouro espanhol a pagar juros de 7,088% para leiloar 3,56 bilhões de euros em bônus a dez anos - deixou a Espanha à beira da barreira em que foi considerado necessário o resgate financeiro a Grécia, Irlanda e Portugal.
O presidente do governo espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, se vê abalado pela atual crise econômica e seu partido enfrenta baixos índices de popularidade a três dias das eleições gerais na Espanha. As pesquisas de opinião são unânimes em apontar uma derrota histórica do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) no pleito do próximo domingo.
Durante um ato eleitoral nesta quinta-feira, Zapatero exigiu à União Europeia (UE) e ao BCE uma solução imediata porque, em sua opinião, "a Europa é a resposta para voltar à estabilidade".
O líder socialista lembrou que o problema do sistema financeiro não se regula apenas com a mudança de governo - o que já ocorreu na Grécia e Itália e vai ocorrer previsivelmente na Espanha após o pleito - "mas é preciso haver um governo europeu que tome decisões para todos".
"É necessário um Banco Central Europeu que aja com vigor e defenda a moeda comum e os países da moeda comum", advertiu o primeiro-ministro, que decidiu não concorrer a uma nova reeleição, desgastado pela crise e pelo índice de quase 5 milhões de desempregados no país, mais de 21% da população ativa.
Zapatero lembrou que Alemanha e França - as nações mais ricas da zona do euro - devem estar cientes de que, se o conjunto da zona do euro permanecer sob tensão, acabará afetando todos.
A ministra da Fazenda da Espanha, Elena Salgado, minimizou os temores de necessidade de um eventual resgate financeiro ao dizer que o país não vai necessitá-lo e que a sustentabilidade da dívida espanhola está "fora de toda dúvida". Segundo ela, o nervosismo dos mercados está na origem das dúvidas suscitadas sobre a Espanha.
O candidato do PSOE à Presidência do governo, Alfredo Pérez Rubalcaba, também evita expressar pessimismo e negou que o país corra o risco de precisar de um resgate internacional. Ele pediu ao BCE que aja de maneira imediata para acabar com esta incerteza.
Rubalcaba destacou que a solução para os problemas da dívida soberana que atingem vários países europeus nos últimos dias obrigam o BCE a agir com força e transparência.
Em sua opinião, o BCE deve mostrar respeito com a dívida dos países da zona do euro, assim como o Federal Reserve (Fed, banco central americano) faz com a dívida dos Estados Unidos e o Banco da Inglaterra age em relação à britânica.
O líder do Partido Popular e provável sucessor do governo espanhol, Mariano Rajoy, não fez nesta quinta-feira nenhuma referência concreta à pressão dos mercados sobre a dívida do país. Ele se limitou a manifestar convicção de que Espanha tem possibilidades de sair da crise com a mudança de governo.
"As coisas na Espanha podem ser feitas, devem ser feitas e serão feitas infinitamente melhor que durante esses últimos quatro anos", ressaltou Rajoy.
Em um comício eleitoral no penúltimo dia de campanha, ele garantiu que, se vencer o pleito de domingo, seu governo será forte e necessitará do maior número possível de votos para que a maioria de deputados no Parlamento seja folgada, para, assim, enviar à Europa uma mensagem de confiança. EFE