Viena, 10 mar (EFE).- A falta de vontade política e o preconceito
são dois dos principais obstáculos na luta contra a Aids, uma doença
que mata cinco mil pessoas por dia.
As declarações foram feitas hoje em Viena pelos responsáveis pela
conferência internacional sobre a Aids que será realizada em julho.
O encontro busca chamar atenção sobre a necessidade de redobrar os
esforços contra a epidemia e também quer que o respeito aos direitos
humanos seja uma prioridade absoluta.
"Hoje em dia temos as ferramentas para parar o HIV/Aids. Se não
fizermos isso é porque não fomos capazes de mobilizar a vontade
política necessária", afirmou Julio Montaner, presidente da
conferência e diretor da Sociedade Internacional da Aids.
"Poderíamos vencer esta epidemia em uma geração", afirmou à
Agência Efe o também responsável do Centro de Excelência em Aids/HIV
da Colúmbia Britânica, no Canadá.
Ele argumentou que, inclusive, se as pesquisas para achar uma
cura fossem interrompidas, a doença poderia ser vencida aplicando os
conhecimentos que já temos.
Montaner recriminou os países mais ricos, que tem descumprido as
promessas de conseguir para 2010 o acesso universal aos tratamentos
contra a Aids e aos programas de prevenção.
"As promessas foram feitas antes da crise", lembrou. "Nem antes
nem depois tínhamos dinheiro para a Aids". "A razão pela qual o
dinheiro não existe é por que não é uma prioridade política. Porque
os doentes, os infectados não votam", denunciou o cientista de
origem argentina.
A conferência também quer centrar o interesse na relação entre
direitos humanos e Aids. "Direitos aqui, agora" é o lema de uma das
mesas do encontro, que espera contar com a presença de 25 mil
especialistas.
"Vai ser uma conferência para pedir mais justiça social", disse
Michel Sibidé, diretor-executivo do Programa da Organização das
Nações Unidas (ONU) para a Aids.
Sibidé afirmou que nos últimos anos os recursos contra a Aids
passaram para US$ 16 bilhões, o que permitiu multiplicar por dez o
número de pessoas em tratamento.
Mas o especialista lembrou que "a Aids não terminou" e pôs sobre
a mesa os números da tragédia: sete mil infecções a cada dia e 400
mil bebês que nascem infectados ao ano na África.
Sibidé alertou também contra a criminalização das vítimas da
Aids, especialmente dos homossexuais, prostitutas e drogados.
Nesse sentido, Montaner disse que as políticas de redução de
danos (troca de seringas, drogas substitutivas) ajudam a iniciar os
viciados no uso dos medicamentos retrovirais que salvarão suas vidas
e reduzirão os níveis de transmissão da Aids.
"Os tratamentos com retrovirais não só permitem pôr o vírus da
Aids em remissão, mas também são capazes de eliminar virtualmente a
transmissão do HIV" (Vírus de Imunodeficiência Humana), inclusive de
mães a filhos, indicou.
Montaner tomou como exemplo a experiência na Colúmbia Britânica,
onde foi possível reduzir a taxa de contágio entre os viciados em
50%, algo que não impediu as autoridades do Canadá de denunciarem
essas políticas aos tribunais.
"A luta contra a Aids está impedida por critérios, sejam
religiosos, dogmáticos ou políticos, que não têm nada a ver quando
estamos falando de saúde pública", disse Montaner.
"Se não enfrentarmos este problema, continentes serão devastados
e como resultado teremos guerras e instabilidade social. Vamos pagar
um preço que não podemos nos permitir", advertiu. EFE