César Muñoz Acebes.
Washington, 9 mai (EFE).- O Fundo Monetário Internacional (FMI) e
os Estados da zona do euro transferirão esta semana à Grécia 20
bilhões de euros, o primeiro empréstimo do plano de ajuda, com o
qual evitarão que o país entre em moratória.
O anúncio foi feito hoje pelo Conselho Executivo do FMI depois da
aprovação formal de um programa de crédito que disponibilizará 110
bilhões de euros para o Governo grego durante um período de três
anos.
A maior parte da ajuda será desembolsada e garantirá que a Grécia
não tenha que acudir aos mercados até 2012, disse hoje, em
entrevista coletiva, John Lipsky, "número dois" do FMI.
Durante o ano de 2010, o país receberá 40 bilhões de euros no
total, dos quais 30 bilhões serão emprestados por países da zona do
euro e o restante pelo FMI.
A Grécia precisa de ajuda imediata para fazer frente a um
pagamento de 9 bilhões de euros no dia 19 de maio, já que,
atualmente, o país é incapaz de captar dinheiro nos mercados de
capitais a juros acessíveis.
Durante o tempo que a assistência externa proteger a Grécia das
variações dos mercados, o país terá que aplicar duras medidas de
ajuste, contempladas no acordo creditício.
O objetivo é que, nesse período, o Governo grego faça mudanças
drásticas em suas finanças públicas e que melhore as perspectivas de
crescimento do país por meio da adoção de grandes reformas, como a
liberalização do mercado de trabalho e a abertura de sua economia à
concorrência, tanto externa quanto interna.
A transformação deve ser profunda e convencer os mercados de que
vale a pena voltar a emprestar dinheiro à Grécia a juros razoáveis.
"Esta é uma receita fácil? Não, é dura", reconheceu Lipsky, que
presidiu a sessão do Conselho Executivo do FMI.
"Nossa expectativa é de que a economia grega esteja em uma
posição muito mais forte para conseguir a confiança dos
investidores" quando tiver que retornar aos mercados, disse o
economista americano.
O total de 30 bilhões de euros que o FMI emprestará à Grécia, se
o país cumprir com as metas do programa, é um valor 32 vezes maior
que sua cota na entidade, quando o limite usual que um país pode
retirar é um volume três vezes superior a sua participação.
Mesmo assim, o apoio ao programa no Conselho Executivo foi
unânime, em grande medida por causa da consciência dos sinais de
contágio da crise em outros países.
Os Estados Unidos, país com maior poder de voto no FMI, apoiaram
o plano de ajuda, apesar das queixas de alguns parlamentares
republicanos.
O presidente americano, Barack Obama, demonstrou hoje sua
preocupação com a instabilidade na Europa e ligou para a chanceler
da Alemanha, Angela Merkel, pela segunda vez em três dias, e para o
presidente da França, Nicolas Sarkozy, para conversarem sobre o
assunto.
O FMI deixou claro que, com a decisão de hoje, espera controlar
os efeitos da crise grega em outras economias.
Lipsky reconheceu que as quedas nas bolsas na semana passada
demonstram que "há um estresse amplo nos mercados financeiros que
vai além da Grécia".
"Os mercados financeiros estiveram instáveis ao perceber uma
falta de clareza no programa. Agora o dinheiro está aí, será
desembolsado esta semana", disse, em entrevista coletiva, Poul
Thomsen, responsável pelas negociações do FMI com a Grécia.
O diretor-gerente da entidade, Dominique Strauss-Kahn, afirmou,
em comunicado, que a concretização do programa de assistência
contribuirá para restabelecer "a estabilidade na zona do euro e
garantir a recuperação da economia mundial".
As dúvidas sobre a resposta europeia e do FMI à crise fiscal na
Grécia elevaram esta semana as gratificações de risco dos bônus
espanhóis e portugueses a seu nível mais alto desde a introdução do
euro, e também subiram os juros da dívida de Irlanda e Itália,
outros dois países com finanças públicas problemáticas.
Lipsky reiterou que o FMI não negocia a possibilidade de estender
empréstimos a Portugal e Espanha, em resposta a boatos levantados na
semana passada. EFE