Haia, 20 fev (EFE).- O Governo holandês convocará eleições
antecipadas após a queda nesta madrugada do Governo de coalizão
devido às diferenças entre os partidos membros do Executivo sobre a
permanência ou não das tropas holandesas no Afeganistão, cuja
retirada estava prevista para o final de 2010.
O primeiro-ministro holandês, Jan Peter Balkenende, comunicou a
dissolução oficial do gabinete à rainha Beatrix, dando início ao
período de 83 dias para a convocação de eleições antecipadas -
antes, o pleito seria realizado apenas no começo de 2011.
Democrata-cristão, Balkenende liderava desde fevereiro de 2007 um
Governo de coalizão entre seu partido (CDA), os trabalhistas do PvdA
e os calvinistas da União Cristã.
A queda do Executivo de Balkenende se deu quando os ministros
trabalhistas decidiram deixar a coalizão após uma longa discussão
sobre se as tropas holandesas deveriam ou não ficar no Afeganistão
por mais um ano.
Os trabalhistas defendiam não prolongar a missão, nem mesmo para
treinar militares afegãos, como propunha a Organização do Tratado do
Atlântico Norte (Otan).
Os democrata-cristãos e os calvinistas queriam cumprir com as
"responsabilidades" solicitadas pela Otan e ampliar a participação
da Holanda na missão no Afeganistão.
Segundo diferentes pesquisas de opinião no país, 66% dos
holandeses apoia a retirada das tropas do país do Afeganistão no
final de 2010. No total, 21 soldados da Holanda morreram em
território afegão.
A retirada do PvdA, um partido em decadência nas pesquisas
eleitorais, supõe que seus ministros serão substituídos até a
realização de novas eleições por políticos do CDA e da União Cristã.
O Governo passará a atuar de forma provisória e interina, sem
poder tomar decisões relevantes.
Um dos partidos que mais comemoraram a queda do Executivo é o
Partido para a Liberdade (PVV), do antimuçulmano Geert Wilders, que
com seus ideias de extrema direita se encontra entre os beneficiados
pelas pesquisas eleitorais.
"O PVV está contente com a queda do Governo que, embora
largamente esperada, finalmente chegou", diz um comunicado emitido
hoje pela legenda.
Algumas pesquisas de opinião apontam que o PVV, que fez uma
campanha contra a imigração, pode vir a ser a segunda força do
Parlamento holandês.
Em princípio, nenhum partido no Parlamento, composto por 150
cadeiras, se mostrou disposto a governar em coalizão com o partido
de Wilders.
Os trabalhistas podem recuperar parte do apoio eleitoral perdido
por sua postura em relação ao Afeganistão, mas isso pode não ser
suficiente para formar uma coalizão de esquerda.
Com esse panorama, as negociações para formar um novo Governo
após as eleições antecipadas se mostram longas, já que pode ser o
caso de haver a necessidade de mais de três partidos para formar uma
coalizão governamental.
As eleições municipais holandesas do próximo dia 3 podem ser uma
prévia do pleito parlamentar.
Este é o quarto Governo consecutivo do democrata-cristão
Balkenende que se dissolve de forma antecipada.
Balkenende declarou em entrevista coletiva hoje que encara a
queda deste seu quarto Governo como uma "derrota", mas explicou que
a confiança entre os partidos da coalizão havia definitivamente sido
rompida. EFE