Isabel Saco.
Genebra, 7 mai (EFE).- O Brasil, país que mais se esforçou para impulsionar a influência internacional do grupo de economias emergentes, conseguiu nesta terça-feira coroar suas ambições com a eleição do diplomata Roberto Azevêdo como novo diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC).
Os chamados Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) viram aumentar sua influência nos últimos anos, em consonância com o declive dos chamados "países desenvolvidos", golpeados - principalmente na Europa - por uma crise econômica que parece interminável.
Com a escolha de Azevêdo, esse grupo abre passagem, melhora sua imagem e, ao mesmo tempo, se confirma a vontade dos países em desenvolvimento de escutar suas vozes nas questões que lhes afetam.
Além disso, deixa clara a urgência de introduzir uma forte mudança na liderança da OMC para salvar do fracasso as negociações comerciais da chamada Rodada do Desenvolvimento de Doha.
O processo para escolher quem substituirá o francês Pascal Lamy, ex-comissário europeu de Comércio e de perfil para muitos excessivamente tecnocrata, foi acirrado (inicialmente houve nove candidatos) e complexo pela necessidade que, no final, o ganhador surgisse de um consenso.
O último oponente de Azevêdo foi o ex-ministro de Comércio do México e reconhecido negociador de tratados de livre-comércio, Herminio Blanco, que recebeu o apoio dos países desenvolvidos - a União Europeia em bloco, os Estados Unidos e os nórdicos, entre outros -, ansiosos por reforçar o espírito liberal da instituição.
No entanto, fontes comunitárias asseguraram à Agência Efe, pouco após conhecer-se o resultado, que se sentiam "cômodos" com Azevêdo, que apoiariam sua gestão e inclusive manifestaram certo alívio porque "assim ninguém poderá nos culpar de nada".
Esse respaldo praticamente em massa dos países ricos terminou reforçando os apoios de Azevêdo entre as nações do Sul, que temiam entregar novamente a instituição a um dirigente que, embora original de um país em desenvolvimento, se identificasse mais com os interesses das nações industrializadas.
A vitória do diplomata brasileiro - com 17 anos de trabalho relacionado com a OMC e há cinco embaixador do país nesta organização em Genebra - leva ventos de frescor e gera esperanças em sua capacidade de fazer movimentar a pesada maquinaria do multilateralismo comercial.
Com uma metáfora que utilizou para a imprensa em suas últimas semanas de campanha, Azevêdo se comparou com um médico que não precisa de mais treino e está pronto para colocar as luvas e entrar na sala de cirurgia para operar e salvar a vida do paciente doente: a OMC.
O próximo diretor-geral desta organização receberá uma pesada herança de Lamy, centrada em dois problemas: negociações comerciais paralisadas por anos e uma instituição que requer reformas internas de envergadura para garantir sua continuidade.
Provavelmente, a maior conquista do chefe saliente da OMC tenha sido a adesão como membros plenos de cerca de uma dezena de países, sobretudo de uma economia importante como a da Rússia.
Os países esperam, portanto, que o brasileiro assuma riscos e impulsione a organização em um primeiro momento, deixando de lado - como prometeu - um "enfoque único" sobre a maneira como os países em desenvolvimento devem incorporar-se ao mercado global.
Seu oferecimento foi transformar a OMC em uma entidade capaz de oferecer a cada membro um enfoque adequado a suas necessidades.
A eleição de Azevêdo só será oficializada amanhã, uma vez que o Conselho Geral da OMC - principal órgão de decisão que integram os 159 países-membros - seja informado do resultado de maneira formal, mas Brasília já comemora o feito.
O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, afirmou hoje que a eleição do brasileiro como novo diretor-geral da OMC "é o reflexo de uma ordem mundial em transformação". EFE