José Manuel Sanz.
Bruxelas, 25 mar (EFE).- Os países da zona do euro chegaram hoje
a um acordo sobre como ajudar a Grécia, com a esperança de que o
anúncio desanime aos especuladores e faça com que o país possa
refinanciar sua enorme dívida a um custo razoável.
Após semanas de incerteza e declarações contraditórias, os 16
países que utilizam o euro como moeda oficial chegaram nesta noite a
um compromisso que dá fôlego para a Grécia levar adiante seu
draconiano plano de ajuste.
Os países mais reticentes a uma intervenção do Fundo Monetário
Internacional (FMI), começando pela França, tiveram que aceitar que
a instituição participe do eventual resgate de um membro da zona do
euro.
O Banco Central Europeu (BCE), responsável pela política
monetária europeia, e a Comissão Europeia, órgão executivo da União
Europeia (UE), também se opunham a uma ação do FMI.
Entretanto, o compromisso forjado hoje em um encontro bilateral
entre o presidente francês, Nicolas Sarkozy e a chanceler alemã,
Angela Merkel, prevê que será ativado, caso necessário, um mecanismo
próprio em favor da Grécia que consistirá em empréstimos bilaterais
dos membros da zona do euro e em empréstimos "substanciais" do FMI.
O apoio europeu "complementa o financiamento do FMI", e será
considerado um recurso a ser usado apenas se o financiamento do
mercado se mostrar insuficiente para evitar a quebra do Estado
grego.
Segundo a declaração aprovada, "qualquer desembolso de
empréstimos bilaterais será decidido pelos países-membros da zona do
euro por unanimidade", o que equivale a conceder à Alemanha, a nação
mais reticente, um direito de veto.
O mecanismo estará "sujeito a estritas condições" e se baseará em
uma avaliação por parte da Comissão Europeia e do BCE, o que garante
que o controle do processo fique na Europa.
"O objetivo deste mecanismo não será oferecer financiamento a
juros médios da zona do euro, mas criar incentivos para voltar ao
financiamento do mercado o mais rapidamente possível com preços
adequados ao risco", diz a declaração.
Embora possíveis taxas de juros de empréstimos à Grécia não
estejam mencionadas, há o esclarecimento de que "não terão nenhum
elemento de subsídio".
Além disso, o documento garante que as decisões tomadas de acordo
com este mecanismo "se ajustarão plenamente" ao Tratado de Lisboa e
às legislações nacionais, o que deve tranquilizar a Alemanha.
O Governo alemão incluiu inúmeras objeções a qualquer operação
que se assemelhasse a um resgate, por razões de princípios e também
de conjuntura política interna.
Para Berlim, a Grécia é a única responsável pelo castigo dos
mercados, por suas políticas orçamentárias e por ter adulterado
reiteradamente as contas públicas e enganado a UE.
Mas a ação dos especuladores financeiros, que apostaram em
conseguir a quebra do Estado grego, já ameaçava contaminar outros
membros da zona do euro e desestabilizar a moeda.
A declaração de hoje tenta barrar a especulação, como afirmou o
primeiro-ministro português, José Sócrates, cujo país teve a
qualificação de sua dívida soberana rebaixada por agências de
classificação de riscos nesta semana.
O acordo também abre caminho para um fortalecimento dos
instrumentos da união monetária europeia com o objetivo de fazer
frente a futuras crises de solvência, algo que a zona do euro não
estava preparada para lidar, apontam especialistas.
"Comprometemo-nos a promover uma coordenação forte das políticas
econômicas na Europa", dizem os 16 países do euro.
"A situação atual mostra a necessidade de garantir a
sustentabilidade fiscal na zona do euro e aumentar sua capacidade
para agir em tempos de crise", acrescentam.
Para o futuro, os Governos da zona do euro acham que "a
vigilância dos riscos econômicos e orçamentários e os instrumentos
para sua prevenção, incluindo o Procedimento de Déficit Excessivo,
devem ganhar força".
Dito procedimento, contido no chamado pacto de estabilidade, não
serviu manifestamente para evitar a derrapagem das finanças públicas
gregas.
Sob a pressão de Merkel, os membros da zona do euro encarregaram
o presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, de abrir
caminho para um reforço "do marco jurídico" com a intenção de evitar
uma crise como a atual. EFE