María Peña.
Mesa (EUA), 1 ago (EFE).- O senador do estado americano do
Arizona, Russell Pearce, da cidade de Mesa, concebeu a lei SB1070
para 'asfixiar' os imigrantes ilegais, mas, paradoxalmente, a medida
está deteriorando a economia da cidade e do estado.
Em vigor desde quinta-feira, embora sem seus artigos mais
criticados, a lei SB1070 penaliza a presença de imigrantes ilegais
no Arizona e inspirou outros estados a seguir seu exemplo.
A lei também serviu para esquentar o clima político nos Estados
Unidos diante das eleições de novembro e em Mesa, a 32 quilômetros
de Phoenix, está contribuindo para a decadência de dezenas de
negócios.
Para um estrangeiro, a vida no Arizona se divide em antes e
depois da SB1070, lei que também pune quem ajuda imigrantes ilegais.
Basta um passeio por algumas das principais ruas de Mesa para ver
o impacto da recessão e da lei, que provocou o êxodo de muita gente.
Vários estabelecimentos em locais movimentados da cidade já
penduram em suas portas letreiros dizendo "fechado" e grossas
correntes e cadeados de aço. Em vários shoppings, só restam vagas
vazias.
Segundo os opositores à lei, seu custo humano, econômico e
político é muito alto, levando em conta que o Arizona tem, em tempos
de recessão, um déficit fiscal de US$ 3,2 bilhões.
"Acho que legisladores como o senhor Pearce não pensam no
bem-estar de seu estado. Estão usando a SB1070 como plataforma para
captar votos", disse à Agência Efe a reverenda chilena Magdalena
Schwartz, da Igreja Discípulos do Reino Metodista Livre, que atende
imigrantes, a maioria do México.
Magdalena chegou a Mesa em 1988 e, em quase dois anos à frente da
igreja, disse ter visto "horrores". Ela lembra que o caso mais
extremo foi o de Alma Minerva Chacón, uma mexicana sem documentação
que foi detida e deu à luz em dezembro "atada nos pés e nas mãos,
como uma verdadeira criminosa, como um animal".
Sua igreja arrecadou US$ 4 mil para pagar a fiança de Alma e
contratar um advogado para conseguir uma licença de trabalho, contou
a reverenda.
Agora, Magdalena tenta ajudar Gloria López, uma jovem mexicana de
18 anos que emigrou com sua família há dez anos. A SB1070 lhe tira o
sonho de ir à universidade e a põe em perigo imediato de deportação.
"É terrível. Só quero estudar para ajudar a minha família",
declarou Gloria entre soluços. O caso dela se aplica a milhares de
estudantes estrangeiros em situação ilegal.
Sentada ao lado de sua avó, Gloria Millanes, cidadã americana há
12 anos, a jovem pede ao presidente dos Estados Unidos, Barack
Obama, para que pressione pela legalização de estudantes como ela.
Ninguém sabe ao certo quanto custará a aplicação da SB1070. As
autoridades já reservaram US$ 10 milhões para ações policiais, cifra
que não inclui os custos de ampliar as prisões ou responder a
possíveis processos civis.
O Centro Udall para Estudos de Política Pública da Universidade
do Arizona calculou recentemente que a produtividade econômica dos
imigrantes no estado, tanto legais como ilegais, foi de US$ 44
bilhões em 2004.
Mais de 30 mil estabelecimentos no Arizona têm donos latinos.
Somadas, suas vendas registraram US$ 4,3 bilhões e deram emprego a
cerca de 40 mil pessoas em 2002, o último ano para o qual há dados.
Caso todos os imigrantes ilegais fossem expulsos do Arizona, o
estado perderia US$ 26,4 bilhões em atividade econômica, US$ 11,7
bilhões em seu Produto Interno Bruto (PIB) e 140.324 empregos,
segundo o Grupo Perryman.
"Antes da SB1070 já tínhamos aqui um ambiente muito terrível, que
tem nome e sobrenome: o xerife Joe Arpaio. A solução não está nas
batidas, como ele acredita, mas em uma reforma migratória", defende
a reverenda Magdalena. EFE.