Paris, 16 ago (EFE).- O presidente francês, Nicolas Sarkozy, e a chanceler alemã, Angela Merkel, expressaram nesta terça-feira o desejo de uma maior integração da zona do euro e rigor nos gastos públicos como fórmula para recuperar a confiança dos mercados diante da crise financeira atual.
Na cúpula que mantiveram em Paris, os dois líderes propuseram que o eixo franco-alemão lidere uma integração ainda maior da zona do euro, com uma nova governança que coordene as políticas de cada um dos 17 países-membros.
Para isso, eles enviarão ao presidente do Conselho Europeu - órgão que reúne os chefes de Estado e de Governo da União Europeia (UE) -, Herman van Rompuy, um conjunto de medidas destinadas a ampliar a integração da zona do euro e a instaurar o rigor orçamentário nas Constituições dos países-membros.
Sarkozy e Merkel consideram que os países do grupo do euro devem ter também instituições econômicas comuns. Por isso, ambos submeterão aos demais parceiros a criação de um organismo composto pelos chefes de Estado e de Governo que se reúna duas vezes por ano ou em caso de crise pontuais.
Para liderar essa nova estrutura, Paris e Berlim vão sugerir o próprio Van Rompuy.
Junto à maior integração, Sarkozy e Merkel consideram necessário que os países do euro melhorem sua competitividade para ganhar em crescimento econômico e controlem suas despesas para reduzir a dependência dos mercados.
Diante de outras soluções, como os bônus da zona do euro e a ampliação do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF), Sarkozy e Merkel manifestaram sua preferência por medidas mais profundas, como a instauração do teto máximo de déficit público nas Constituições dos países da zona do euro.
Conhecida na França como a "regra de ouro", essa medida obriga por lei os Governos a manter um rigor orçamentário e não ultrapassar um certo nível de déficit. Paris e Berlim querem que essa norma, já adotada pela Alemanha, esteja inscrita nas Cartas Magnas dos 17 países no ano que vem.
Na França, Sarkozy afirmou que buscará negociá-la com os partidos políticos, mas, caso não consiga um acordo, afirmou que será uma de suas propostas eleitorais para a campanha das eleições presidenciais do próximo ano, com o que espera obter assim um referendo popular a seu propósito.
Tanto Sarkozy como Merkel elogiaram como exemplo de rigor as diversas medidas de contenção da gastos anunciadas recentemente pela Itália e Espanha, dois países atingidos pela especulação dos mercados. Essas políticas devem ser aplicadas em outros países dentro da coordenação desejada por Sarkozy e Merkel.
Como exemplo de integração, Paris e Berlim aproximarão ainda mais suas políticas econômicas e, a partir de 2013, terão um imposto comum. Sarkozy e Merkel proporão ainda a criação de uma taxa sobre as transações financeiras, uma medida que consideram "necessária", mas da qual não deram mais detalhes.
Como estava previsto, a cúpula serviu para rejeitar por enquanto a criação de bônus comuns de dívida da zona do euro, uma medida reivindicada por países, como a Itália.
Tanto Merkel como Sarkozy a classificaram como "inadequada" neste momento, porque reduziria a credibilidade dos países com maior solidez econômica.
"Essa medida colocaria em perigo os países da zona do euro mais estáveis, que têm a melhor nota e que se veriam obrigados a garantir a dívida de outros países sem, em troca, poder intervir em sua capacidade de endividamento", ressaltou Sarkozy.
Merkel rejeitou que essa medida seja "a panaceia" que vá regular a crise econômica e expressou sua preferência por medidas que ajudem "passo a passo a reconquistar a confiança dos mercados".
O mesmo aconteceu com o aumento das verbas do FEEF que, nas palavras de Sarkozy, não faria mais além de alimentar "a especulação mundial".
Os líderes do eixo franco-alemão indicaram que suas medidas servirão para devolver a confiança dos mercados na zona do euro.
Segundo eles, os dois países não deixarão o euro cair e se mostrarão solidários com os países mais afetados pelos ataques especulativos. Mas, em troca, exigirão um maior rigor para evitar que as más políticas desses países fragilizem suas economias.
Merkel assinalou que os diversos países devem levar em conta as advertências da Comissão Europeia (órgão executivo da UE) e que os fundos de coesão devem ser controlados para que sirvam para melhorar a competitividade dos países receptores.
"O euro deu aos países muitos direitos, mas também deve ter alguns deveres", afirmou Sarkozy. EFE