Washington, 23 set (EFE).- A recessão econômica de 1937, que
agravou a Grande Depressão americana, será uma das referências da
cúpula que o Grupo dos Vinte (G20, os países desenvolvidos e as
principais nações emergentes) realiza quinta e sexta-feira, em
Pittsburg (EUA).
Na reunião, as partes vão debater a melhor forma de suspender as
intervenções do Governo e dos bancos centrais nos mercados e no
sistema financeiro, mas sem fazer com que a economia se ressinta.
A recuperação da economia americana já atingiu tal ponto que os
especialistas acham que os Estados Unidos já se uniram aos países
que saíram da recessão, como Alemanha e França.
Agora, os membros do G20 sabem que começarão a ter de lidar com
os elevados déficits acumulados. Além de encarar o peso da dívida
assumida pelas nações ricas, o grupo se prepara para picos de
inflação.
O ano de 1937, no entanto, mostrou que é preciso cautela na hora
de pisar no freio.
"Esse ano é muito importante na história econômica dos Estados
Unidos, pois houve uma recessão dentro de uma depressão", explicou à
Agência Efe Charles Geisst, especialista em história econômica do
Manhattan College.
A economia americana, que havia sofrido um baque em 1929, começou
a se recuperar a partir de 1933. Quatro ano depois, o desemprego já
havia caído para 14%, uma taxa muito alta, mas inferior à de 25%
registrada anos antes.
Na época, o Federal Reserve (Fed, banco central americano) elevou
as taxas de juros. O Governo, por sua vez, aumentou os impostos e
restringiu os gastos, sufocando a frágil expansão econômica.
Segundo alguns economistas, a situação atual nos EUA é similar à
de 72 anos atrás: a recuperação começou, mas é delicada e encontra
obstáculos nos problemas financeiros e num desemprego que em breve
deverá passar de 10%.
"A suspensão do estímulo e o endurecimento da política monetária
seriam um erro catastrófico neste momento", acredita Damon Silvers,
representante dos sindicatos e vice-presidente da comissão do
Congresso que supervisiona o pacote econômico lançado pelo
presidente Barack Obama.
"A principal causa da crise financeira não foi abordada",
ressalta.
Silvers se referiu aos bancos americanos, que ainda mantêm nos
livros contábeis os ativos podres que provocaram a crise. Para
agravar a situação, embora aparentemente o caos no setor imobiliário
tenha chegado ao fundo do poço, analistas preveem que o valor dos
imóveis comerciais continuará caindo.
Esse panorama põe em risco, particularmente, as pequenas
entidades financeiras dos EUA, diz Hung Tran, diretor do
Departamento de Mercados de Capitais e Países Emergentes do
Instituto de Finanças Internacionais (IFI), a maior associação de
bancos do mundo.
Desde que a economia passou a dar sinais de estabilização, o Fed
reduziu alguns de seus programas extraordinários de empréstimos e
sugeriu medidas para que possa deixar de intervir nos mercados. O
mesmo fez o Governo com relação ao estímulo econômico.
"Os erros clássicos de política econômica durante as crises são
atuar tarde demais com força insuficiente e depois frear muito
rápido. Não vamos repetir esses erros", disse recentemente o
secretário do Tesouro, Timothy Geithner.
Numa reunião preparatória para a cúpula de Pittsburgh, os
ministros da área econômica da UE já disseram que manterão as
medidas expansivas "até que a recuperação se consolide".
Por trás dessa declaração, no entanto, se esconde a ansiedade da
Europa em saber como os EUA enfrentarão um déficit que passa de 11%
do Produto Interno Bruto (PIB), destaca Heather Conley, diretora
para a Europa do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais
(CSIS, em inglês).
"Os líderes europeus querem um plano preciso de como o estímulo
será retirado", lembra Conley.
A UE tem consciência que deixar o pé no acelerador também é
arriscado. Afinal de contas, as baixíssimas taxas de juros que os
EUA praticavam no começo da década contribuíram, segundo os
analistas, para inflar a bolha que estourou no ano passado. EFE
cma/sc