Maribel Izcue.
Busan (Coreia do Sul), 5 jun (EFE).- O Grupo dos Vinte (G20, que
reúne os países ricos e os principais emergentes) pediu hoje às
nações com "desafios fiscais" que acelerem suas consolidações e
cuidem de seu crescimento, em meio a preocupação pelo efeito da
crise de dívida na Europa sobre a recuperação global.
Os ministros de Finanças e presidentes de bancos centrais do G20
concluíram hoje um encontro de dois dias em Busan (Coreia do Sul)
marcado pelo problema de dívida na zona do euro e o temor de que os
efeitos dos severos ajustes orçamentários ultrapassem as fronteiras
comunitárias.
"Os recentes eventos sublinham a importância das finanças
públicas sustentáveis", que devem ser combinadas com "medidas
críveis que favoreçam o crescimento", indicaram os ministros em seu
comunicado final.
Todos concordaram que os ajustes devem ser feitos "na medida das
circunstâncias nacionais", ao tempo que aplaudiram a ação "decidida"
dos Governos para enfrentar os problemas de dívida na Eurozona,
incluindo as medidas da Espanha, Grécia e Portugal.
A ministra de Economia espanhola, Elena Salgado, que representou
à Presidência rotativa da União Europeia, se mostrou favorável a
"rápida" consolidação fiscal na Europa, mas sem excessos e
acompanhada de reformas estruturais que potencializem o crescimento.
Ao término da reunião, no entanto, o ministro de Finanças
sul-coreano e anfitrião do encontro, Yoon Jeung-hyun, expressou sua
preocupação ao considerar que a situação na zona do euro está
atrasando, "indiretamente", as estratégias de recuperação de algumas
nações.
Outros, como o titular de Finanças argentino, Amado Boudou,
consideraram que se colocou "ênfase demais" na consolidação fiscal.
"É claro que é importante", mas "acreditamos que é preciso seguir
mantendo estímulos à demanda", afirmou Boudou em entrevista
coletiva.
Neste sentido, o G20 reconheceu que junto com os esforços para
acelerar a redução do déficit é necessário seguir fomentando o
crescimento.
Uma consolidação fiscal mais rápida "no início terá um efeito
negativo, mas a médio prazo é positiva para o crescimento", indicou
ao fim do encontro o diretor do Fundo Monetário Internacional (FMI),
Dominique Strauss-Kahn.
O responsável do FMI disse que, para enfrentar os efeitos no
curto prazo dos ajustes na Europa, é necessário "reequilibrar o
crescimento doméstico nas economias emergentes", chave para a
reativação econômica.
O governador do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet,
afirmou que houve um entendimento "muito bom" das medidas adotadas
pela Europa, amparadas, disse, como "uma das melhores formas da
União Europeia para restaurar a confiança".
Insistiu em que o propósito é "ser sustentável", e que as medidas
de ajuste "reforçarão a confiança e ajudarão a consolidar a
recuperação".
A reforma do sistema fiscal foi outro ponto central das
discussões, mantidas em um hotel da cidade portuária de Busan.
"É necessária maior transparência nos balanços bancários, assim
como melhorias no modo de governar as empresas financeiras", indicou
o comunicado.
Houve acordo para fechar até o fim deste ano, previsivelmente na
Cúpula do G20 em Seul em novembro, novas normas para melhorar os
standards de capital e liquidez dos bancos.
Não se chegou ao consenso, entretanto, na questão referente à
criação de uma taxa bancária global, destinada a recuperar o
dinheiro gasto no resgate das entidades financeiras e para ter
fundos para cobrir hipotéticos resgates no futuro.
A definição da taxa é apoiada pelos EUA e a Europa, enquanto
Canadá, Austrália e os países emergentes a rejeitam, por
considerarem que pode abafar o crédito.
Embora muito debatida nos dias prévios à reunião, a possibilidade
do encargo não foi mencionada no comunicado final, que indicou só
que "o setor financeiro deve dar uma contribuição justa e
substancial dirigida ao pagamento da carga associada aos Governos".
O G20 é formado pelos membros do Grudo dos Oito (G8, EUA, Canadá,
Reino Unido, Rússia, Itália, França, Reino Unido e Alemanha, os
países mais ricos do mundo), além da União Europeia (UE), Coreia do
Sul, Argentina, Austrália, Brasil, China, a Índia, Indonésia,
México, Arábia Saudita, África do Sul e Turquia. EFE