Brasília, 20 abr (EFE).- O Governo do presidente Luiz Inácio Lula
da Silva ganhou hoje a queda-de-braço judicial com os movimentos
sociais e leiloou as obras da represa que será construída na
Amazônia obrigando o deslocamento de 50 mil pessoas.
O leilão foi realizado em meio a uma batalha jurídica e decisões
de tribunais que ora paralisavam ora autorizavam a construção da
hidrelétrica que será uma das três maiores represas do mundo.
Em questão e dias centenas de manifestantes se concentraram em
frente à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), órgão oficial
responsável pela licitação, para protestar.
O ato chegou a ser suspenso na noite da segunda-feira, mas a
decisão judicial que proibia o leilão foi revogada durante a manhã
de hoje. Imediatamente, a Aneel realizou o leilão para evitar que
outra decisão judicial voltasse a paralizá-lo.
A sede da Aneel em Brasília, que já tinha sido palco de protestos
em outros momentos, amanheceu cercada por centenas de manifestantes
que se opõem à represa de Belo Monte.
Membros do grupo ecologista Greenpeace chegaram durante a
madrugada e, antes de acorrentar nas portas da Aneel, esvaziaram um
caminhão cheio de excrementos de cavalo em frente ao órgão.
Também penduraram cartazes com frases duras, como uma que dizia
"Belo Monte de merda", e divulgaram um comunicado em que condenam "a
herança maldita" que o Governo "deixará para o Brasil ao insistir
nessa obra".
A decisão judicial que permitiu o leilão chegou à Aneel assim que
os ativistas se libertaram de suas correntes, e o anúncio do
resultado provocou protestos entre as centenas de pessoas que
aguardavam em frente ao órgão, entre elas índios, camponeses e
militantes de diversos movimentos sociais.
A licitação foi ganha por um grupo liderado pela Companhia
Hidroelétrica do São Francisco (Chesf, estatal), a construtora
privada Queiroz Galvão e outras seis empresas.
Esse consórcio apresentou a melhor oferta, com um preço de 77,97
reais por megawatt-hora, 6,02% menor que o teto estabelecido pela
Aneel.
Segundo os cálculos do Governo, a represa terá um custo de US$
10,6 bilhões, gerará em média 4.571 megawatts por hora e alcançará
um teto de 11.233 megawatts nas épocas de cheia do rio Xingu, um dos
principais afluentes do Amazonas.
Os grupos que se opõem a sua construção denunciaram que o Governo
não levou em conta o dano ambiental e humano que as obras devem
causar. A represa obrigará a inundação de uma área de mais de 500
quilômetros de floresta e o deslocamento de cerca de 50 mil índios e
camponeses que residem na região, em sua maioria dedicados ao
cultivo de cacau.
Os protestos ganharam reforços na semana passada, com a adesão do
cineasta canadense James Cameron e parte do elenco do filme
"Avatar", que contém uma mensagem forte em favor do meio ambiente.
Cameron, Sigourney Weaver e Joel David Moore - dois dos
protagonistas de "Avatar" -, participaram inclusive em uma
manifestação realizada perante a sede da Aneel, onde disse que
divulgarão ao "mundo" o "desastre" que Belo Monte deve provocar.
No entanto, segundo o Governo, na convocação do leilão se
respeitaram todas as normas ambientais que existem no país e se
incluíram cláusulas para minimizar o dano e garantir as devidas
indenizações a todos os deslocados.
Uma vez em operações, a represa de Belo Monte será a terceira
maior hidroelétrica do mundo, atrás apenas da represa de Três
Gargantas (China) e de Itaipu (Brasil e Paraguai).
A previsão do Governo é que a hidroelétrica, que será construída
no município Altamira (PA), comece a operar em uma primeira fase em
2015 e que esteja completamente terminada e funcionando em 2019. EFE