Lisboa, 30 jun (EFE).- O Governo português vetou hoje a venda de
30% da brasileira Vivo para a espanhola Telefónica, apesar de ter
sido aprovada pelos acionistas da Portugal Telecom (PT), devido a
uma "ação de ouro" questionada por Bruxelas e pela própria empresa
lusa.
A decisão do Executivo socialista de Portugal foi a segunda
surpresa da assembleia de acionistas da PT realizada hoje para
decidir a venda das ações da Vivo, líder de telefonia celular no
Brasil, pelos 7,15 bilhões de euros que a Telefónica ofereceu em
última hora.
A primeira surpresa foi que, apesar da força do chamado "núcleo
forte" de acionistas portugueses da PT, que controlavam cerca da
metade dos votos e se opuseram publicamente à venda da Vivo, a
oferta da empresa espanhola foi aprovada por 73,9% dos acionistas.
Mas a decisão do presidente da assembleia, António Menezes
Cordeiro, de aceitar o veto da ação estatal com direitos especiais,
deixou sem efeito as demais votações da reunião.
O primeiro-ministro português, José Sócrates, justificou depois a
atuação do Estado e disse que "'a ação de ouro' serve para ser
utilizada quando é necessário".
"Tanto os que iam comprar como os que eram consultados na
assembleia, todos os acionistas, e em particular a Telefónica,
sabiam qual era a posição do Governo e penso que deviam levá-la em
conta", declarou.
Sócrates lembrou que, quando o Governo fala, interpreta os
"interesses nacionais" e insistiu no caráter "fundamental" que tem
para a PT a participação na Vivo, que com a Telefónica controla 60%
do capital da empresa brasileira através da sociedade conjunta
Brasilcel.
A Comissão Europeia (CE) questionou as ações com direitos
especiais que têm os Estados-membros da União Europeia (UE) e
considerou hoje o uso desses privilégios por parte do Governo luso
"incompatível" com a legislação europeia.
O presidente do conselho de administração da Portugal Telecom,
Henrique Granadeiro, revelou após a reunião que os responsáveis pela
empresa "tinham a convicção que a 'ação de ouro' não era aplicável a
esta matéria".
Mas tanto Granadeiros como o presidente-executivo da PT, Zeinal
Bava, que defenderam perante os acionistas a importância estratégica
da Vivo, se mostraram de acordo com o resultado da reunião e
destacaram que a responsabilidade de admitir a aplicação da "ação de
ouro" é do presidente da assembleia.
Por sua vez, Cordeiro expressou aos jornalistas a "certeza
absoluta" que a aplicação da ação com direitos especiais do Estado é
legal.
O presidente da assembleia assegurou que tinha tomado "todas as
precauções" para garantir a validade do recurso ao veto estatal e
consultado seis juristas antes da assembleia.
Cordeiro também decidiu suspender os direitos de voto por
conflito de interesses de 6% de ações relacionadas com a Telefónica,
que teria uma rejeição à sua oferta mais fácil por parte dos
acionistas nacionais. Mas, no final, a medida resultou irrelevante
porque apenas 26% do capital rejeitou a operação.
Perante a alta porcentagem de votos registrada a favor da venda
da Vivo, apesar dos contratempos, o presidente-executivo da PT negou
hoje estar desiludido com os acionistas que lhe tinham dado seu
apoio para manter a empresa brasileira e relacionou o resultado da
votação com a alta da oferta em última hora.
A Telefónica fixou no último dia 1º em 6,5 bilhões de euros a
quantidade que estava disposta a pagar pela Vivo, 800 milhões de
euros a mais dos que tinha oferecido três semanas antes.
Mas ontem à noite, horas antes do início da assembleia, elevou
sua oferta para 7,15 bilhões de euros, um número que acabou por
seduzir os acionistas nacionais e obrigou o Governo a jogar sua
última carta para abortar a operação. EFE