Igor G. Barbero.
Islamabad, 13 ago (EFE).- As águas do rio Indo e seus afluentes
inundaram grandes extensões de cultivo no Paquistão, especialmente
no Punjab, considerado o "celeiro" do país, colocando assim em jogo
o sustento de vida de milhões de afetados, que começaram o Ramadã
mais difícil de suas vidas.
"Toda a faixa do Indo, de Chashma a Guddu, está sofrendo graves
inundações neste momento. A situação continuará assim pelo menos por
dois ou três dias", afirmou hoje à Agência Efe um porta-voz da
Autoridade Nacional de Gestão de Desastres, Ahmad Kamal.
Esta faixa, que atravessa totalmente a província oriental de
Punjab, inclui muitos dos distritos que fazem parte do conhecido
como "cinturão agrário" do Paquistão, onde o setor representa 23,3%
do PIB e proporciona cerca de 42% do emprego, segundo dados
oficiais.
Os dados das autoridades são claros: as águas já alagaram em
torno de 135 mil quilômetros quadrados, 16,8% do território, dos
quais a ONU estima que mais de um milhão de hectares sejam terrenos
de cultivo, enquanto fontes oficiais paquistanesas elevam o número
para entre 4,8 milhões e 6 milhões.
"As inundações destruíram colheitas de algodão, arroz,
cana-de-açúcar e tabaco no valor de bilhões de rúpias", lamentou o
ministro de Alimentação e Agricultura, Nazar Mohammed Gondal, citado
hoje pelos meios de imprensa paquistanesas.
Algumas estimativas já falam de até US$ 3 bilhões de perdas,
embora por enquanto não haja uma avaliação consolidada, pois o nível
das águas continua sendo elevado em amplas regiões.
Como se fosse pouco, o setor criador de gado também é um dos
grandes afetados por uma catástrofe na qual muitos habitantes estão
se vendo obrigados a abandonar seus animais para salvar suas
próprias vidas.
De acordo com a ONU, pelo menos 14 mil cabeças de gado - nove
vezes mais que seres humanos - pereceram até o momento nas piores
inundações dos últimos 80 anos no Paquistão, embora o dado seja só a
ponta do iceberg, pois fontes do setor asseguram que o número
poderia ser inclusive de 100 mil.
"A magnitude é tremenda, não vi em minha vida um desastre deste
estilo", declarou hoje em entrevista coletiva o secretário-geral da
Cruz Vermelha, Bekele Geleta.
Geleta pediu à comunidade internacional para doar mais fundos
para poder assistir cerca de seis dos 14 milhões de afetados que
requerem de ajuda urgente, como comida, cobertores e remédios.
Desabrigados começaram ontem com muita disciplina o que talvez
seja o mês sagrado do Ramadã mais difícil de suas vidas, como pôde
comprovar a Efe durante uma visita recente às regiões do desastre.
No entanto, alguns clérigos, como o mufti Munibur Rehman,
declararam que nestes tempos de crise não é necessário cumprir com
todo rigor com o jejum durante as horas de sol, uma tradição que
poderá ser recuperada mais adiante.
Em tempos de crise sempre surgem mentes ávidas, dispostas a fazer
negócio embora seja a custa das penúrias dos demais.
"A fúria da natureza e a avareza do homem se combinaram para dar
um golpe duplo, com preços exagerados nos alimentos que acrescentam
problemas ao sofrimento do povo durante o mês de jejum", diz um
editorial publicado hoje pelo jornal paquistanês "Dawn", o mais
influente em língua inglesa.
O jornal fez um apelo ao Governo para fixar preços máximos em
produtos básicos, como legumes e açúcar, que estão experimentando
uma alta inflação.
As autoridades asseguram que há reservas de trigo suficientes -
um superávit de dois milhões de toneladas e outro milhão em reservas
de emergência - para enfrentar os meses que virão.
A comunidade humanitária, com a ONU à frente, alertou que os
próximos três meses serão especialmente difíceis.
O organismo multilateral conseguiu distribuir porções de comida a
382 mil pessoas na província noroeste de Khyber Pakhtunkhwa, a
primeira que foi castigada por águas que causaram estragos do norte
ao sul do país.
Nos próximos dez dias, as agências da ONU pretendem chegar a dois
milhões de pessoas com sua assistência alimentar, e alcançar
progressivamente os seis milhões que a necessitam para sobreviver à
catástrofe. EFE