Esther Rebollo.
Bogotá, 16 fev (EFE).- Com a libertação nesta quarta-feira do policial Guillermo Solórzano e do militar Salín Antonio Sanmiguel, teve fim um complexo e delicado operacional que permitiu que as a Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) entregassem seis sequestrados na Colômbia durante a última semana.
Apesar desta missão, coordenada pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) e pela ex-senadora Piedad Córdoba, ter tido um final feliz, não esteve isenta de tensão e polêmica, sobretudo depois de domingo, quando a guerrilha não cumpriu o compromisso de libertar o major Solórzano e o cabo Sanmiguel.
Os dois foram finalmente postos em liberdade nesta quarta-feira em um ponto desconhecido no sudoeste da Colômbia, entre os departamentos de Cauca e Valle del Cauca, onde a missão humanitária recolheu-os em um helicóptero emprestado pelo Governo do Brasil.
Solórzano e Sanmiguel seriam libertados no domingo em outra zona do país, mas, segundo o Governo colombiano, as Farc enviaram coordenadas erradas, o que gerou uma grande desconfiança.
As Farc, no entanto, negaram nesta quarta-feira, através de um comunicado, terem fornecido coordenadas erradas: "foram transmitidas de maneira oportuna", afirmou a guerrilha.
"Infelizmente, no dia de ontem (em referência ao domingo), por razões que estamos investigando, não foi possível completar a libertação unilateral da totalidade dos prisioneiros de guerra anunciados", sustentou o grupo.
Já a ex-senadora Piedad Córdoba explicou na terça-feira que "dificuldades logísticas, técnicas, atmosféricas, topográficas e as próprias da guerra interna dificultaram a entrega".
O presidente Juan Manuel Santos, por sua vez, indicou em entrevista à cadeia "CNN" que "é possível" que as Farc tenham se aproveitado da ausência da Polícia no lugar onde a guerrilha deveria entregar os sequestrados para transferir seu líder máximo, conhecido como "Alfonso Cano".
Analistas e imprensa manifestaram que a paralisação das atividades militares horas antes da entrega de reféns, como estabelecem os protocolos de segurança, sempre permite que os grupos armados tomem posições, movimentem tropas, passem de um lugar a outro e transportem drogas.
A Alta Representante para as Relações Exteriores e a Política de Segurança da União Europeia, Catherine Ashton, reconheceu que "as circunstâncias que cercaram a libertação dos dois últimos sequestrados geraram sérias dúvidas".
A ONU, por sua parte, celebrou as libertações, mas exigiu às Farc através de seu representante em Bogotá, Chistian Salazar, que ponha em liberdade todos os reféns de forma "incondicional e imediata".
Já o representante do Governo neste processo, Eduardo Pizarro, reiterou que a gestão de Santos "cumpriu seus compromissos estritamente, com a não execução de nenhuma operação de caráter militar".
Além disso, lamentou que as Farc "tenham usado estas libertações humanitárias para fazer propaganda política e abusar das famílias e do povo colombiano".
A ex-senadora Piedad expressou sua satisfação pelo que chamou de "missão cumprida" e se disse convencida de que é possível na Colômbia a "saída política" ao conflito armado.
"O mais importante é que o alcançamos e isso é suficiente", ressaltou, em alusão às dificuldades e tensões que envolveram o processo.
Os libertados desde 9 de fevereiro são os vereadores Marcos Baquero e Armando Acuña, o fuzileiro naval Henry López e o policial Carlos Alberto Ocampo. Nesta quarta-feira aconteceu o final feliz para Solórzano e Sanmiguel.
"Sempre confiamos em Deus, embora tenha havido momentos de desespero, de incerteza, mas de todos os modos sentíamos que ele iria retornar", disse aos jornalistas Piedad Solorzano, irmã do policial libertado.
As gestões da ex-senadora Piedad Córdoba permitiram que a guerrilha colocasse em liberdade de forma unilateral 20 sequestrados nos últimos três anos.
Mesmo assim, as Farc mantêm ainda em seu poder, segundo Pizarro, 17 agentes de segurança pública considerados "passíveis de troca", ou seja, que pretendem trocar por guerrilheiros presos. EFE