Ilha do Sal (Cabo Verde), 3 jul (EFE).- O presidente Luiz Inácio
Lula da Silva disse hoje que seu país nunca poderá pagar a "dívida
histórica" que tem com a África, na primeira cúpula com a Comunidade
Econômica dos Estado de África Ocidental (Cedeao), realizada em Cabo
Verde.
Lula iniciou hoje em Cabo Verde sua última viagem pela África
antes de deixar a Presidência, na qual deve passar por Guiné
Equatorial, Quênia, Tanzânia, Zâmbia e África do Sul, onde deve ir à
final da Copa, torneio que o Brasil foi eliminado ontem pela
Holanda.
Na cúpula Brasil-Cedeao, hoje na Ilha do Sal, Lula ressaltou que
"é impossível devolver nossa dívida histórica com a África. Somos
devedores em todos os sentidos, em nossa forma de ser, nossa cultura
e nossa arte", já que o Brasil não seria o que é se não tivesse
contado com o esforço de milhões de africanos.
O Governante indicou que o Brasil não pretende só buscar na
África novos mercados, mas construir uma relação que sirva para o
benefício mútuo.
Neste sentido, Lula destacou que pretendem criar condições para a
transferência de tecnologia brasileira aos países da África, de modo
que este continente "possa produzir o que nós produzimos agora".
Como primeiro passo, o governante sul-americano anunciou a
criação de uma universidade, com disciplinas fundamentais, no Ceará,
que receberá 5 mil estudantes de seu país e outros 5 mil africanos,
para que estes possam acabar seus estudos na África e acelerar o
desenvolvimento de seus países.
Também citou a criação de um centro africano-brasileiro de
biocombustíveis, para a capacitação nesta matéria, além de um
mecanismo financeiro conjunto para incentivar os investimentos e o
comércio mútuos.
Lula, que visitou como presidente 25 países dos 53 da África,
assegurou que a estreita relação com este continente continuará
quando deixar a Chefia do Estado dentro de seis meses, pois é uma
"decisão política" do Brasil e "qualquer governante que venha depois
de mim está a moral, política e eticamente comprometido".
O chefe do Estado da Nigéria, Goodluck Jonathan, que exerce a
Presidência rotativa dos 15 países da Cedeao, disse que esta reunião
"marcará época" e agradeceu a Lula por ser "um verdadeiro e grande
amigo da África".
Jonathan destacou a presença de inúmeros governantes da África
Ocidental na reunião, como prova do interesse das relações com o
Brasil e da América do Sul e apontou as energias renováveis e a
construção de infraestruturas como os principais campos nos quais o
continente pode aproveitar a cooperação brasileira.
O presidente da Comissão da Cedeao, James Victor Gbeho, indicou
que a cúpula com o Brasil significa avançar no sonho de governantes
de ambos os lados do Atlântico para conseguir a "unidade e
solidariedade entre os povos da África, América do Sul e o Caribe".
Em declaração conjunta ao término da cúpula Brasil-Cedeao, as
partes assinalaram que a cooperação será centrada em conquistar a
paz, erradicar a pobreza, garantir a segurança alimentar, defender o
meio ambiente, desenvolver as energias renováveis e estabelecer um
diálogo político.
Além disso, o Brasil buscará com os 15 países da África Ocidental
aumentar a colaboração entre seus setores privados, desenvolver a
construção de infraestruturas, estabelecer uma troca cultural e
cooperar em matéria de segurança, a fim de "aumentar e reforçar a
aliança estratégica para o lucro mútuo".
As duas partes pedem no documento a aceleração da reforma do
sistema financeiro internacional, para fazê-lo mais "equitativo,
justo e incluindo" e que permita aos países em desenvolvimento
comparecer nos mecanismos de tomada de decisões das organizações
multilaterais. EFE