Ignacio Ortega.
Moscou, 14 ago (EFE).- O presidente da Rússia, Dmitri Medvedev, e
a chanceler alemã, Angela Merkel, deram hoje pleno respaldo político
à oferta do fabricante austríaco-canadense Magna e do banco estatal
russo Sberbank para comprar a Opel.
"O Governo da República Federal Alemã apoia a oferta da Magna
(...) e a iniciativa russa para comprar a Opel", assegurou Merkel em
entrevista coletiva conjunta depois de se reunir com o presidente
russo no balneário de Sochi (Mar Negro).
Os líderes concordaram ao assinalar que a compra da Opel pela
General Motors (GM) por parte do consórcio russo-canadense seria o
melhor para o futuro saneamento da companhia alemã e, além disso,
reforçaria a cooperação estratégica entre Moscou e Berlim.
"A Magna é uma companhia com uma longa experiência no mercado do
automóvel, o que significa que está interessada no desenvolvimento
estratégico da Opel, o que é muito importante para nós", ressaltou.
"Vemos possibilidade de desenvolvimento a longo prazo da Opel e,
além disso, a Magna quer trabalhar na Rússia. Por isso, estamos
fazendo todo o possível para que as questões pendentes sejam limadas
nos próximos dias", disse.
Merkel ressaltou que o Governo alemão está fazendo todo o
possível "para que a GM, o Governo federal e os investidores cheguem
a uma postura comum".
"Há dois investidores, mas estou contente que já haja um
documento preparado para assinatura. A concepção da Magna apresenta
perfis magníficos", disse durante o pronunciamento perante a
imprensa transmitido ao vivo pela televisão russa.
Merkel lembrou que a "Opel não pertence ao Governo federal, mas
se mostrou convencida de que todas as partes estão interessadas em
conservar os postos de trabalho e encontrar uma via racional para
realizar a operação".
"Eu gostaria que isto acontecesse o mais rápido possível. Cada um
por sua conta não podemos decidir nada", disse.
Por sua parte, Medvedev, que já tinha tratado este e outros temas
no mês passado com Merkel na Baviera, defendeu os investimentos em
"novas tecnologias" em tempos de crise.
"Investimentos estratégicas como essa (Opel) permitem melhorar a
estrutura econômica e são um seguro perante futuros cataclismos
econômicos", afirmou o chefe do Kremlin.
Magna e Sberbank estão dispostos a comprar da corporação
americana General Motors (GM) 20% e 35% da Opel, respectivamente,
investindo 700 milhões de euros.
O primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, assegurou recentemente
que a Rússia acredita que o investimento na Opel lhe permita obter
os direitos sobre as tecnologias modernas de fabricação de
automóveis.
No caso da GM dar o sinal verde, a Magna e seu parceiro russo
poderiam comercializar os automóveis Opel sob sua própria marca,
fazer quaisquer modificações em sua estrutura e copiar certas
soluções técnicas na hora de projetar novos modelos.
Segundo a imprensa americana, a GM prefere a oferta do investidor
belga RHJI porque facilitaria voltar a comprar a Opel após seu
saneamento e porque receia ceder tecnologia aos russos.
No entanto, a Magna é a preferida dos trabalhadores da Opel e do
Governo alemão porque contempla uma menor redução de empregos e
permitiria a Opel finalmente desligar-se da GM.
Medvedev e Merkel também trataram outros assuntos como a agenda
da Cúpula de Chefes de Estado e de Governo do Grupo dos Vinte (G20,
que reúne os países mais ricos e os principais emergentes), que será
realizada no final de setembro em Pittsburg (Estados Unidos).
No plano político, os dirigentes abordaram a cooperação entre
Rússia e Otan no Afeganistão, e as crises nucleares da Coreia do
Norte e do Irã.
Merkel assegurou que "a comunidade internacional deve retomar as
conversas com o Irã, apesar da difícil situação dos direitos humanos
no país".
Além disso, pediu uma postura comum a fim de "impedir que o Irã
fabrique armas nucleares".
Por sua vez, Merkel cumpriu o prometido antes de viajar à Rússia
e pôs sobre a mesa o assunto da onda de assassinatos de ativistas
dos direitos humanos no Cáucaso.
"É muito importante que se faça todo o possível para que quem
comete esses crimes horríveis sejam levados perante a Justiça. O
presidente russo me prometeu que assim ocorrerá", disse.
Por sua parte, Medvedev replicou que os assassinatos dos
ativistas e também os ataques contra funcionários do Governo no
Cáucaso têm o objetivo de "desestabilizar a situação" na área. "Acho
que esta questão ficará resolvida em breve", especificou.
No dia 15 de julho foi assassinada na Chechênia Natalia
Estemirova, famosa jornalista e ativista da organização "Memorial",
cujo diretor, Oleg Orlov, responsabilizou o presidente checheno,
Ramzan Kadyrov, pelo crime.
Esta semana outras duas pessoas, a diretora da ONG Spasiom
Pokolenie (Salvemos a Geração), Zarema Saidulayeva, e seu marido,
Alik Zhabrailov, representantes do Unicef no Cáucaso, também foram
assassinados nessa mesma república. EFE