José Manuel Sanz.
Bruxelas, 7 mai (EFE).- Os Governos da zona do euro concordaram
hoje em utilizar toda a artilharia financeira e legal à disposição
em defesa da união monetária, desafiada há semanas pelas tensões nos
mercados e pelos ataques especulativos.
Os líderes dos 16 países da zona do euro entraram em acordo, em
reunião de emergência realizada em Bruxelas, para ativar todos os
instrumentos e fundos necessários a fim de devolver a calma o mais
rápido possível aos mercados financeiros e de dívida.
"Está claro que não estamos diante de um ataque contra um país ou
outro. É um ataque contra a união monetária europeia", afirmava um
alto funcionário presente na reunião, resumindo o sentimento
partilhado da reunião.
A situação é de tamanha gravidade que os líderes deram mandato à
Presidência rotativa da União Europeia (UE) - exercida pela Espanha
neste semestre - para que convoque para domingo uma reunião
extraordinária dos ministros de Finanças na qual sejam aprovados os
detalhes do mecanismo de estabilização.
A ideia é que esteja pronto para ser usado na segunda-feira,
antes da abertura dos mercados.
Segundo as regras europeias, as decisões de política econômica e
monetária com implicações para o conjunto dos membros não podem ser
tomadas apenas pelos 16 países do euro, mas também pelo Conselho
Ecofin (sobre questões econômicas e financeiras), do qual participam
todos os 27 Estados da UE.
A declaração estipulada hoje reafirma o compromisso dos 16
membros do euro com "a estabilidade, a unidade e a integridade" da
zona do euro.
"Todos estamos cientes de que passamos por uma situação muito
séria na zona do euro e que vamos enfrentá-la juntos", declarou o
presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, em uma breve
entrevista coletiva à imprensa após a cúpula.
Na mesma coletiva, o presidente da Comissão Europeia (órgão
executivo da UE), José Manuel Durão Barroso, assegurou que os
europeus farão de "tudo" para garantir a estabilidade financeira da
zona.
"Estamos todos unidos em torno de nossa moeda", ressaltou.
A declaração dos 16 países do euro é feita após uma semana de
fortes quedas nas bolsas de valores europeias e em meio a sinais
cada vez mais claros de que a crise da dívida da Grécia se propaga
para outras economias do sul da Europa.
Além disso, o acordo dos líderes da zona do euro contém o que
Barroso definiu como um novo "pacto de consolidação fiscal".
A redução dos déficits excessivos "é uma prioridade para todos
nós", afirma o texto.
"Cada um de nós está pronto, segundo a situação de cada país,
para tomar as medidas necessárias a fim de acelerar a consolidação e
assegurar a sustentabilidade das finanças públicas", acrescenta.
No documento, os chefes de Estado e de Governo também solicitam à
Comissão Europeia e aos ministros que apliquem "estritamente" as
regras do Pacto de Estabilidade e Crescimento, que fixa para cada
país o limite de 3% do PIB nacional para o déficit público.
Barroso não quis dar detalhes nem sobre como funcionará o
mecanismo de estabilização nem sobre o montante de fundos que pode
ser mobilizado.
Entre as medidas cogitadas estão: proibir as vendas a descoberto,
que os especuladores utilizam para lucrar na baixa provocada no
preço de um ativo; forçar os bancos a não se desfazerem da dívida
soberana; ou ainda autorizar o Banco Central Europeu (BCE) a comprar
no mercado secundário as obrigações ou bônus mais incertos.
Barroso deixou claro que os europeus vão usar "todos os
instrumentos", mas que isso será feito dentro do marco orçamentário
atual e com respeito à independência do Banco Central Europeu.
O presidente do BCE, Jean-Claude Trichet, se opõe à estratégia de
compra de dívida, em função do risco que representa para o controle
da inflação e pelos possíveis danos à sua autonomia.
A declaração da zona do euro também registra o acordo de
"reforçar a governança da zona do euro".
Isso significará, em primeiro lugar, "prestar mais atenção aos
níveis de dívida e à evolução da competitividade", e não apenas ao
déficit.
Em segundo lugar, reforçar as regras de vigilância do Pacto de
Estabilidade e Crescimento e nele introduzir "sanções mais
efetivas".
E em terceiro, consistirá em criar "um marco robusto para a
gestão de crise", dentro do respeito ao princípio de que cada país é
responsável por seu próprio orçamento.
Na próxima quarta-feira, a Comissão fará propostas que busquem
melhorar as regras de governança econômica, com o objetivo de
"preencher as lacunas" da atual legislação, destacou Barroso.
Por fim, o documento constata que as atuais turbulências
demonstram a necessidade de se avançar rapidamente na regulação e
supervisão dos mercados financeiros, especialmente no que se refere
aos derivativos financeiros e ao papel das agências de classificação
de riscos.
"Deve-se acelerar o trabalho de avaliação sobre se é necessário
avançar em relação à recente especulação contra a dívida soberana",
conclui o documento. EFE