Javier Picazo Feliú.
Tóquio, 8 abr (EFE).- Com direito a cerimônia de boas-vindas e vestidos com suas melhores roupas, 800 mil recém-formados chegaram recentemente ao primeiro emprego no Japão, em um dia que marca a passagem da universidade para um dos mercados de trabalho mais estáveis e exigentes do mundo.
Em abril, com o início do ano fiscal no Japão, jovens que concluíram a universidade são incorporados às empresas. A maioria já sabe em que companhia iniciará sua carreira profissional, inclusive um ano antes da graduação, quando começam a apresentar suas candidaturas, receber informações da empresa e a organizar suas primeiras entrevistas.
Dados do Ministério do Trabalho apontam que neste ano 80,5% dos estudantes universitários japoneses já tinham contrato para o primeiro emprego um mês antes da formatura, 3,1% a mais do que em 2011.
No ano passado, os recém-formados japoneses recebiam em média 202 mil ienes (R$ 4,5 mil) por mês, além dos dois bônus anuais que fazem parte do salário no Japão.
Entre os assinaram o contrato o primeiro contrato nesta semana está Maiko Okumura, de 23 anos, que se formou em 26 de março e começou a trabalhar em um escritório de advogados no centro de Tóquio, com o qual entrou em contato no ano passado.
"Os estudantes costumam começar a procurar trabalho no terceiro ano da universidade e quase todos encontraram uma oportunidade. Quem não entra para o mercado é porque optou pelo mestrado", explica à Agência Efe.
Okumura garante que fez cinco entrevistas antes de encontrar o trabalho que se adequava a seus interesses: "não queria trabalhar em uma empresa grande, preferia um lugar mais aberto, onde pudesse aprender mais. Estou muito feliz", contou.
Ao contrário de outros países, no Japão quase não se aplica o sistema de bolsas de estudos com o qual os recém-formados começam a trabalhar sem garantias de permanecer na empresa. Os formandos entram diretamente como empregados.
Desde o primeiro dia útil de abril, os "kaishain" (novos empregados) iniciam um período de estágio junto a um "Senpai" (mentor) para aprender sobre o rígido sistema corporativo japonês.
Em muitas companhias, os primeiros meses servem para realizar cursos destinados a entender a filosofia corporativa e saber, por exemplo, como atender ao telefone de maneira e entregar corretamente um cartão de visita, algo imprescindível no Japão.
O objetivo, tanto dos empresários quanto dos novos empregados, é que a relação profissional entre ambos perdure durante toda a vida e ofereça, em troca de sacrifício, a possibilidade de crescer até se transformar em "kakarichou" (secretário chefe), "kachou" (gerente), e inclusive "shachou" (presidente).
Trabalhar para uma empresa de prestígio é um símbolo de orgulho para a maioria dos japoneses, como um dia já foi pertencer a um clã "samurai", e muitos denominam os empregados das companhias de mais renome de "guerreiros corporativos".
Para ressaltar a participação na empresa, os japoneses assalariados se apresentam dando primeiro o nome de sua companhia, ao qual vinculam ao seu próprio depois.
No entanto, este conceito também está mudando: "antes a ideia era a de entrar em uma grande empresa para toda a vida, agora muitos dos meus amigos querem trabalhar alguns anos e depois fazer outra coisa ou montar sua própria empresa", detalhou Okumura.
Neste primeiro dia de trabalho é comum a realização de uma cerimônia de boas-vindas para o grupo de novos empregados (dokhi), na qual são introduzidos na estrutura da empresa e ouvem os tradicionais discursos de seus novos empregadores.
"Vamos trabalhar duro, com o espírito de nunca se dar por vencidos", assinalava Akio Toyoda, presidente da Toyota, durante a apresentação para seus 1.211 novos funcionários.
Na Toyota este "batismo" empresarial contou com a presença de 300 executivos, incluindo representantes sindicais de cada uma das divisões da empresa.
Apesar das dificuldades econômicas pelas quais o Japão passou em 2011, por conta do terremoto, tsunami e da crise nuclear de março, a valorização do iene e as inundações na Tailândia, o mercado de trabalho não parece ressentido em um dia que marca o início do ano fiscal japonês.
O Japão é um dos países com o menor desemprego no mundo industrializado, tendo registrado em 2011 taxa média de 4,5%, abaixo dos 5% de 2010, conforme os dados oficiais. EFE