Jorge Figueroa.
Montevidéu, 28 fev (EFE).- José Mujica, que assumirá nesta
segunda-feira como presidente do Uruguai, disse hoje que a luta
contra a indigência e a pobreza, e a difusão do conhecimento "para
todos os cantos do país", serão dois dos pilares de sua
administração.
O ex-líder guerrilheiro "Pepe" Mujica, como é conhecido,
ratificou que a "austeridade" será a marca de seu Governo.
"Temos o compromisso de tentar acabar com a indigência e diminuir
os índices de pobreza à metade", afirmou durante uma entrevista
coletiva à imprensa estrangeira credenciada para sua posse.
O presidente eleito disse: "vamos colocar o máximo esforço para
ampliar o conhecimento, especialmente no interior do país".
Além disso, reafirmou a mensagem repetida quase como uma obsessão
aos ministros designados e aos legisladores governistas sobre a
necessidade de ter "austeridade" no manejo das contas públicas.
A maneira de gastar o dinheiro público "aparentemente não dói a
ninguém, mas nós vamos ser firmes e cuidadosos", acrescentou Mujica,
que doará 87% de seu salário a uma fundação que constrói imóveis
para famílias desprotegidas.
"Não sou um modelo para os demais, mas nos melhores momentos da
minha vida não tinha quase nada", lembrou o futuro governante, de 74
anos, que alternará suas atividades oficiais com o cultivo de flores
e hortaliças em sua casa na periferia de Montevidéu, onde seguirá
vivendo.
"Nem louco deixaria sua casa para mudar para a residência
presidencial", disse Mujica, que seguirá compartilhando churrascos e
vinho com seus vizinhos como sempre fez.
"Sou agricultor e camponês de alma", enfatizou o ex-líder
guerrilheiro, que esteve preso em duras condições antes e durante a
ditadura do Uruguai entre 1973 e 1985.
Sua esposa, Lucia Topolansky, que também esteve presa, será quem
tomará amanhã o juramento de fidelidade à Constituição de Mujica e
de seu vice-presidente Danilo Astori.
Topolansky, por ser a senadora mais votada nas últimas eleições,
é a presidente temporária da Câmara de Senadores, cargo que ocupará
Astori assim que assumir a Vice-Presidência.
O ato, no Palácio Legislativo (Parlamento), terá como testemunhas
os presidentes da Argentina, Cristina Fernández de Kirchner; Brasil,
Luiz Inácio Lula da Silva; Bolívia, Evo Morales; Colômbia, Álvaro
Uribe; Equador, Rafael Correa; Paraguai, Fernando Lugo, e Venezuela,
Hugo Chávez.
Também estará presente a secretária de Estado americana, Hillary
Clinton, o Príncipe de Astúrias, Felipe de Bourbon, e outras
personalidades dos cinco continentes.
O herdeiro da coroa da Espanha já está em Montevidéu para
participar da cerimônia de mudança de comando.
A presidente do Chile, Michelle Bachelet, cancelou sua viagem à
capital uruguaia após o terremoto que ontem assolou seu país.
Logo em seguida, Mujica receberá a faixa presidencial das mãos do
atual chefe de Estado, Tabaré Vázquez, em cerimônia que, por
expresso pedido do primeiro, será realizada ao ar livre, na Praça da
Independência e rodeado de público.
"Se chover os que forem ao ato terão de se molhar, assim como
eu", disse o presidente eleito aos organizadores da cerimônia para
justificar sua decisão de montar o palanque na Praça Independência
sem cobertura.
O palco foi montado em frente ao monumento do herói uruguaio José
Artigas e à Avenida 18 de julho, a principal de Montevidéu.
Até agora, todos os atos de transmissão de comando presidencial
no Uruguai foram realizados na sede da Presidência.
Mujica e Astori chegarão até a Praça Independência em um veículo
elétrico especialmente condicionado para a ocasião que demorará uma
hora para percorrer os dois quilômetros que separam o Palácio
Legislativo (Parlamento) desse espaço.
Após receber a faixa presidencial, Mujica designará oficialmente
seus ministros, pronunciará um discurso e cumprimentará as
delegações estrangeiras.
O dia festivo acabará com um espetáculo musical no centro da
capital e um jantar para 1,3 mil convidados para brindar a posse do
novo presidente com os visitantes. EFE