Por José de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar fechou em queda apenas leve nesta terça-feira, mas suficiente para tocar uma mínima em mais de duas semanas e deixar o real entre as divisas mais resilientes do dia, à medida que a força das commodities por expectativas melhores sobre a China deu fôlego à divisa brasileira e amorteceu pressões relacionadas à alta de juros nos EUA.
O dólar negociado no mercado interbancário caiu 0,38%, a 5,3518 reais. É o menor valor para um encerramento desde 8 de julho (5,269 reais).
Ao longo da jornada, a cotação variou entre alta de 0,40%, para 5,394 reais, e baixa de 0,69%, a 5,3354 reais.
Os ganhos ocorreram logo no começo do pregão, e posteriormente a moeda entrou em enfraquecimento, na esteira de nova valorização das matérias-primas. O minério de ferro --um dos principais componentes da pauta de exportação do Brasil e que tem a China como seu principal destino-- bateu uma máxima em duas semanas.
O país asiático tem produzido notícias mais alentadoras nos últimos dias no campo econômico, alimentando expectativas de aumento de demanda por produtos básicos exportados pelo Brasil.
"Cada vez mais a economia brasileira está mais sensível a qualquer alteração na economia chinesa, o que está fazendo a gente se descolar um pouco das questões relacionadas aos juros nos EUA", disse Fabrizio Velloni, economista-chefe da Frente Corretora. "O real descolou do DXY hoje", completou.
O DXY é um índice da ICE de referência para o dólar em relação a uma cesta com seis pares. Um índice da Refinitiv com metodologia similar saltava 0,77% no fim da tarde, impulsionado pela queda de 1% do euro, este afetado pelo recrudescimento das preocupações com a oferta de energia para a Europa.
Outras moedas do G7 e de países emergentes também perdiam terreno, na véspera da decisão de juros pelo banco central norte-americano (Fed). A expectativa é de nova alta de 75 pontos-base, mas contratos futuros de taxa de juros ainda embutem alguma chance de um superaumento de 100 pontos-base.
Taxas de juros mais altas nos EUA aumentam a atratividade da renda fixa norte-americana, estimulando conversão de moedas estrangeiras para o dólar, o que o valoriza.
O dólar lá fora bateu sucessivas máximas em 20 anos recentemente, também beneficiando-se de demanda por segurança diante da deterioração do cenário econômico global.
"Uma virada convincente no dólar provavelmente exigirá notícias de inflação mais branda e uma política monetária do Fed mais equilibrada", disseram analistas do Goldman Sachs (NYSE:GS) em nota.
"Embora algumas das notícias muito recentes sobre a inflação (nos EUA) tenham sido encorajadoras, achamos que uma venda tática de dólar exigirá algum reconhecimento disso pelas autoridades do Fed", completaram.
O desfecho da reunião do Fed será conhecido às 15h (de Brasília) na quarta-feira, seguido às 15h30 por coletiva de imprensa do chefe do banco central, Jerome Powell.