Javier Albisu.
Paris, 5 abr (EFE).- O CryoSat, o satélite mais complexo já
criado para analisar as camadas de gelo da Terra, será lançado ao
espaço no próximo dia 8 com o objetivo de proporcionar dados úteis
para evitar o derretimento dos polos.
O satélite vai realizar uma das seis missões de observação da
Terra do programa Planeta Vivo da Agência Espacial Europeia (ESA, na
sigla em inglês) e é a ferramenta mais avançada da história para
"saber quanto gelo está desaparecendo das calotas polares", explicou
à Agência Efe o chefe de manutenção dos satélites do programa,
Miguel Canela.
A camada de gelo que cobre o oceano Ártico chegou a índices
mínimos históricos nos últimos verões e, embora a observação da
cobertura de gelo do espaço não seja novidade, "é necessário
determinar a variação da espessura do gelo" para entender melhor a
mudança climática, diz a ESA.
O CryoSat - nome inspirado na palavra grega 'kryos' (frio ou
gelo) - fornecerá informações, por exemplo, sobre a Corrente do
Golfo, que provoca um aumento de seis ou sete graus na temperatura
na Europa Ocidental "acima do que corresponderia pela latitude",
relata Canela, e que provocaria alterações climáticas caso afetada.
Além disso, o satélite oferecerá dados com precisão de um
centímetro sobre as variações da espessura do gelo, que pode
alcançar cinco quilômetros na Antártida, e ampliará os conhecimentos
sobre a salinidade dos oceanos.
Três meses após seu lançamento a partir da base russa de
Baikonur, no Cazaquistão, os cientistas poderão conhecer mais sobre
o efeito das placas polares como 'espelho' das radiações solares e
defesa natural contra o aquecimento global.
A superfície clara do gelo permite que parte das radiações
solares rebata e retorne à atmosfera, enquanto as zonas terrestres
as absorvem, descreve Canela.
O derretimento dos polos, prossegue, dá origem a um círculo
vicioso: quanto mais gelo derrete, mais radiações a Terra absorve,
mais severa é a mudança climática e mais rapidamente as calotas
polares diminuem.
Alguns cientistas opinam que já chegamos ao ponto de não retorno,
embora "ainda haja mais otimistas que pessimistas".
Entretanto, o desaparecimento dos polos, que fazem com que o
nível do mar aumente por volta de três milímetros cada ano, não é a
única ameaça oferecida pelos polos Norte e Sul.
Em 2007, o degelo da superfície gelada do oceano Ártico fez com
que, pela primeira vez na história, a rota marítima do noroeste se
abrisse, abrindo um ponto de passagem de mercadorias para os Estados
que querem explorar comercialmente o aquecimento global.
No entanto, Canela lembra que, "politicamente falando, ninguém é
proprietário do polo Norte".
Outra batalha será pelo controle dos hidrocarbonetos existentes
sob as calotas polares. "Sob a Antártida há, provavelmente, petróleo
e gases que podem ser muito interessantes", conta Canela.
Estes interesses econômicos darão lugar a "grupos de pressão",
acrescenta o cientista, ao advertir que há "regiões do mundo onde (a
mudança climática) tem um efeito devastador e outras onde é muito
rentável a médio ou longo prazo".
As estimativas do Instituto de Pesquisas Geológicas dos Estados
Unidos apontam que há sob o Círculo Polar Ártico 90 bilhões de
barris de petróleo, o suficiente para satisfazer a demanda mundial
durante três anos.
Não por acaso, os países que circundam o Oceano Ártico - Rússia,
Canadá, Dinamarca (com a Groenlândia, seu território), Noruega e EUA
- já disputam o controle da região. EFE