Paris, 29 mar (EFE).- A Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) ressaltou nesta quinta-feira as divergências no ritmo de recuperação econômica entre os Estados Unidos, onde a melhora é evidente, e a Europa, que apesar de alguns sinais positivos a situação se mantém "frágil".
"Há sinais de atividade mais consistente nos Estados Unidos", principalmente se comparado com os mesmos sinais que partem da zona do euro, destacou o economista-chefe da OCDE, Pier Carlo Padoan, ao apresentar em entrevista coletiva seu relatório preliminar de perspectivas para os países do Grupo dos Sete (G7, formado por Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão, R. Unido).
"A confiança continua sendo chave" e ganhou maior força nos Estados Unidos do que na União Europeia, assinalou Padoan, que indicou que no conjunto a economia do G7 crescerá em ritmo anual de 1,7% tanto no primeiro trimestre deste ano quanto no segundo, mas destacou as diferenças neste grupo dos sete países mais ricos.
Pelas estimativas da OCDE, na Europa haverá no primeiro trimestre uma queda do Produto Interno Bruto (PIB) em três dos quatro membros desse clube exclusivo: França (-0,2%), Reino Unido (-0,4%) e principalmente Itália (-1,6%). Alemanha escapará por pouco com alta de 0,1%.
No segundo trimestre, só Itália seguirá em baixa (-0,1%, sempre em ritmo anualizado), enquanto deverão avançar Reino Unido (+0,5%), França (+0,9%) e Alemanha (+1,5%).
Frente a isso, o PIB dos Estados Unidos aumentará ao ritmo de 2,9% entre janeiro e março e 2,8% entre janeiro e junho, com evolução relativamente similar no Canadá (+2,5% em cada trimestre).
Japão é um caso à parte porque o forte crescimento esperado para os três primeiros meses do atual ano (+3,4%) responde em grande medida ao efeito técnico de recuperação da produção industrial após a detenção brusca sofrida no ano passado por causa do tsunami. Nos três meses seguintes, a cadência de alta se desacelerará 1,4%.
Padoan comentou que as incertezas estimadas sobre estas previsões são menores do que as existentes no outono, mas segue persistindo o risco de eventos extremos "e, portanto, não há espaço para a complacência, em particular na zona do euro".
Ali "há trabalho inacabado" e "há muito a ser feito" porque os problemas "são complicados", argumentou antes de acrescentar que é preciso "aumentar o tamanho das proteções para evitar o contágio de uma eventual crise de dívida como a que ocorreu na Grécia até o volume de 1 trilhão de euros, o que pode ser obtido "com diferentes instrumentos e instituições".
Reconheceu que está sendo feito "esforço significativo em muitos países" do euro em termos de ajuste fiscal e de reformas estruturais, mas que ainda há muita margem de trabalho, e para ilustrá-lo apresentou um gráfico com os potenciais lucros dos diferentes países da eurozona em termos de PIB por habitante no prazo de dez anos.
Perguntado sobre por que voltava a subir o prêmio de risco na Espanha, Padoan respondeu que como no caso da Itália pesam as perspectivas de recessão, e afirmou que "é muito importante o ajuste que está em andamento no terreno fiscal, estrutural, e bancário" na Espanha, e que "deve continuar".
O economista-chefe da OCDE estimou que a escalada nos preços do petróleo "poderia ter impacto limitado tanto sobre a inflação quanto sobre a atividade", e concretamente poderiam amputar o PIB do conjunto de seus países entre um e dois décimos.
Padoan insistiu que diminui nos Estados Unidos o nível de dívida imobiliária privada, mas advertiu que na Europa isso ainda não ocorreu, embora em termos globais a bolha imobiliária fora de verba menos importante no Velho Continente. EFE