Teresa Bouza.
Washington, 9 jun (EFE).- O Banco Mundial (BM) advertiu hoje que
a América Latina será uma das regiões mais afetadas caso algum país
da União Europeia (UE) declare descumprimento de pagamentos ou
realize uma grande reestruturação de sua dívida soberana.
A incerteza que rodeia cinco países europeus - Grécia, Portugal,
Espanha, Itália e Irlanda - com dívidas elevadas e avultados
déficits fiscais levou o BM a alertar sobre o efeito
desestabilizador que exerce o Velho Continente sobre a economia
global.
"A recuperação econômica mundial continua, mas a crise da dívida
da Europa pôs novos obstáculos no caminho rumo a um crescimento
sustentável a médio prazo", advertiu o organismo em seu relatório
"Perspectivas Econômicas Globais 2010" publicado nesta quarta-feira.
O diretor de tendências macroeconômicas do BM, Andrew Burns,
disse em entrevista coletiva que, quando se avalia como os
diferentes cenários na Europa afetariam o mundo em desenvolvimento,
América Latina, Ásia Central e a Europa emergente figuram como as
regiões mais vulneráveis por seus laços comerciais e financeiros com
a União Europeia.
O estudo lembra, nesse sentido, que os bancos espanhóis e
portugueses são uma "importante fonte de financiamento" na América
Latina e que as entidades financeiras da Espanha têm mais de 25% do
capital bancário no México, Chile e Peru.
Além do setor bancário, a análise do BM adverte também sobre o
potencial impacto que uma piora da situação na Europa poderia ter
sobre os fluxos de investimento estrangeiro direto.
O relatório menciona, nesse sentido, que 12% do investimento
estrangeiro direto no Brasil em 2009 proveio de Portugal e Espanha,
um país no qual, segundo os analistas do BM, a situação
macroeconômica é "muito grave".
Segundo o BM, se os bancos do grupo que é chamado de UE-5
(Grécia, Portugal, Espanha, Itália e Irlanda) forem forçados a
reforçar sua capitalização, "os fluxos de capital a todos esses
países e regiões poderia se contrair fortemente".
Mesmo assim, o BM considerou improvável que o pior dos cenários,
o da moratória ou reestruturação da dívida, se materialize. Ele
também está inclinado a apostar que a crise na Europa atuará
simplesmente como um freio da recuperação.
O estudo divulgado nesta quinta prevê uma subida do Produto
Interno Bruto (PIB) mundial de entre 2,9% e 3,3% em 2010 e 2011.
O Banco Mundial tinha antecipado em janeiro que PIB mundial
aumentaria 2,7% este ano e 3,2% em 2011.
O BM antecipa que a América Latina terá um crescimento real,
ajustado pela inflação, de 4,5% este ano, 4,1% em 2011 e 4,2% em
2012.
Além disso, o Banco Mundial insistiu que, por enquanto, a maior
percepção de risco na Europa não afetou a maioria de países
emergentes.
Entre as exceções, segundo explicou Burns, estão Argentina e
Venezuela, países com níveis de dívida muito elevados e onde cresceu
a percepção de risco devido.
Entre os fatores "positivos", segundo o BM, figura o fato de que
a recuperação dos Estados Unidos e do Japão estão ganhando força, o
que traz um sinal "encorajador". EFE