Por Bernardo Caram
BRASÍLIA (Reuters) - O dado do mercado de trabalho brasileiro divulgado nesta terça-feira foi uma surpresa bastante positiva, disse nesta terça-feira o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ressaltando que já é possível falar em um nível de desemprego abaixo de dois dígitos neste ano.
Após dizer que conversou com agentes de instituições financeiras na última semana, Campos Neto afirmou que o mercado está melhorando suas projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) do país em 2022 e já vê crescimento de 1,5% a 2% --a atual projeção do BC está em 1%.
"O Brasil é um dos únicos casos que a previsão de crescimento subiu nos últimos meses para 2022, aliás, ela vai subir mais do que está aqui, a gente teve reuniões com economistas e a média já está entre 1,5% e 2%", disse em audiência pública na Comissão de Defesa do Consumidor da Câmara.
O último relatório Focus disponibilizado pelo BC, divulgado no início de maio, apontava projeção do mercado de alta de 0,7% no PIB deste ano.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de desemprego no Brasil atingiu o nível mais baixo desde o começo de 2016 no trimestre até abril, a 10,5%.
“Tivemos um dado de mercado de trabalho que saiu hoje pela manhã, foi uma surpresa bastante positiva”, disse Campos Neto. “Estamos começando a falar que o desemprego este ano vai ser abaixo de dois dígitos, lembrando que antes da pandemia estava em 12%”, disse.
Campos Neto ponderou que o aumento do número de trabalhadores ativos tem sido acompanhado de uma redução na renda média.
Ao argumentar que o BC avalia riscos de promover aumentos de juros acima ou abaixo da conta, Campos Neto afirmou que o trabalho da autoridade monetária é levar a inflação à meta, mas destruindo o mínimo possível da cadeia produtiva.
“Nosso trabalho é fazer o máximo possível para inflação estar na meta, mas olhando o que consigo fazer para que o processo aconteça com o mínimo de destruição de tecido produtivo da economia”, afirmou.
Campos Neto disse que nenhum banqueiro central do mundo acha confortável subir juros porque esse movimento freia a economia. Ele ressaltou que o mercado entende que o ciclo de alta dos juros no Brasil está perto do fim.
Na última reunião do Copom, no início de maio, o BC elevou a Selic em 1 ponto percentual, a 12,75% ao ano, sinalizando um ajuste de menor magnitude em junho.
INFLAÇÃO GRAVE
De acordo com Campos Neto, o BC brasileiro se antecipou ao promover o aperto monetário antes de outras economias e antes das previsões do mercado porque entendeu que a inflação seria mais persistente.
Sobre o cenário de alta de preços, Campos Neto disse que a situação do Brasil é "grave", mas que o país ainda tem expectativas ancoradas dentro da banda para a meta de inflação nos próximos anos, ao contrário de vizinhos latinos.
Na avaliação do chefe da autoridade monetária, elementos voláteis --em particular alimentos e energia-- começaram a contaminar a inflação de forma mais ampla.
Ao afirmar que o choque de commodities é positivo para o Brasil, por ser um país que produz mais do que consome, ele ponderou que o lado ruim é o social, com elevação de preços de alimentos enquanto pessoas estão em situação de necessidade.
Em meio a pressões do Congresso e medidas em avaliação no governo para mitigar os impactos da alta de preços de combustíveis, Campos Neto disse que a alta dos preços relacionados às commodities é um problema como o qual o país precisa lidar, mas disse que isso é uma atribuição do governo, não do BC.
Campos Neto também afirmou que tem havido performance fiscal boa no curto prazo, com surpresas positivas consecutivas. Para ele, o nível de dívida de volta a patamar próximo ao observado no início da pandemia --como apontaram dados divulgados nesta terça pelo BC-- mostra esforço fiscal feito no país. [nL1N2XN0XI
Ele ponderou, porém, que há incerteza sobre a situação fiscal de longo prazo, em meio a dúvidas sobre a capacidade do país de crescer de forma sustentável. Segundo Campos Neto, o fiscal pode ter piora rápida se o país crescer pouco, perto de 1% ao ano.