Nacho Temiño.
Varsóvia, 5 jul (EFE).- A vitória do liberal Bronislaw Komorowski
nas eleições presidenciais da Polônia abre o caminho do país rumo a
uma mais profunda integração política e deixa para trás figuras tão
polêmicas como o conservador Jaroslaw Kaczynski, muito criticado em
Bruxelas por seu nacionalismo e intolerância.
O processo era lento e inexorável. Começou em 2007, com a derrota
parlamentar do partido Lei e Justiça (PiS), quando Jaroslaw
Kaczynski perdeu a oportunidade de continuar à frente do Executivo e
cedeu ao impulso liberal.
A morte no acidente aéreo de seu irmão gêmeo e chefe de Estado,
Lech Kaczynski - junto a membros da elite conservadora polonesa -,
acelerou o declínio do partido ao privá-lo de muitas de suas
principais figuras.
Agora a Polônia fica definitivamente dominada pelos liberais de
Plataforma Cívica (PO), com Donald Tusk como primeiro-ministro e
Bronislaw Komorowski como futuro presidente da República.
Para o parlamentar Jacek Kurski, do PiS, "Komorowski não
governará sozinho", mas sua Presidência será dirigida por Tusk, o
que torna impossível esperar políticas ativas e críticas por parte
do próximo chefe de Estado, pregado aos interesses do Governo.
Espera-se que Komorowski coopere com o Executivo liberal, com um
mandato que em alguns momentos chegue inclusive a ser qualificado de
dócil, a fim de levar adiante as reformas duras e imprescindíveis
que Tusk pretende iniciar para apoiar a economia.
Como explica o analista Pawel Fafar, os poloneses demonstraram
que estavam "fartos" dos conflitos entre primeiro-ministro e
presidente, e optaram pelo candidato mais moderado, mas firme
defensor do consenso e do acordo como ferramentas políticas.
Os votos do eleitorado de esquerda foram decisivos para a vitória
de Komorowski, que durante sua campanha eleitoral manteve um cortejo
evidente com a Aliança Esquerda Democrática (SLD), cujo líder,
Grzegorz Napieralski, havia sido o terceiro mais votado no primeiro
turno, com 13%.
"Sem nós não teria conseguido ganhar", afirmou o parlamentar
Ryszard Kalisz, da SLD, satisfeito com os resultados de ontem.
É justamente agora quando o liberal deve pensar em como
materializar as promessas que fez aos setores da esquerda dias
atrás, entre as quais estão o financiamento dos tratamentos de
fertilização in vitro e a saída das tropas polonesas mobilizadas no
Afeganistão.
A parlamentar conservadora Ewa Kierzkowska alerta agora que esse
apoio exigirá algo em troca. "Após vencer as eleições, o
primeiro-ministro Tusk terá de cumprir as promessas de Komorowski".
Apesar do desempenho da esquerda, a eleição de ontem confirma que
a Polônia continua situada à direita da arena política, imersa entre
dois modelos bastante similares, não obstante as vontades de seus
líderes e eleitores.
São opções similares que, no entanto, mantêm a população
dividida. Tal divisão até se refletia territorialmente, já que foi o
Leste do país - mais pobre -, e as zonas rurais que apoiaram
Kaczynski, enquanto as cidades e o Oeste - mais desenvolvido -
votaram majoritariamente por Komorowski.
Os resultados também certificam a linha que a Polônia seguirá no
futuro, com um presidente que procura reforçar o diálogo, a posição
polonesa no fórum internacional, europeísta e representante dos
interesses do mundo dos negócios.
A opção desprezada, representada por Jaroslaw Kaczynski, deixa
fora de jogo um político percebido como um grande patriota, que
encarna as demandas dos trabalhadores e que pretende atender aos
interesses nacionais acima de tudo, embora também seja considerado
polêmico em excesso e pouco disposto a buscar soluções de consenso.
Ontem à noite, Kaczynski se sobrepunha à derrota e pedia a
mobilização de seus seguidores e o início da luta pelas eleições
parlamentares do ano que vem. EFE