Oscar Tomasi.
Lisboa, 22 jan (EFE).- Os portugueses refletem neste sábado sobre o voto que darão no domingo na eleição presidencial, com a crise econômica como pano de fundo, que devem decidir entre a continuidade que oferece Aníbal Cavaco Silva e a mudança proposta pelos demais candidatos.
A escolha do próximo chefe de Estado é crucial para o país, alvo declarado dos mercados internacionais, que especulam sobre a possibilidade de Portugal ser o próximo país a recorrer à ajuda externa, depois da Grécia e da Irlanda.
O primeiro-ministro socialista, José Sócrates, rejeita categoricamente esta opção, enquanto o principal grupo da oposição, o Partido Social Democrata (PSD), anunciou que reivindicará eleições legislativas se finalmente se recorrer à ajuda da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Neste contexto de divergência política e fragilidade econômica, a decisão está em reeleger o atual chefe de Estado, o conservador Cavaco Silva - apoiado pelo PSD -, escolher o candidato socialista, Manuel Alegre - aprovado pelo partido e os marxistas do Bloco de Esquerda -, ou respaldar algum dos outros quatro aspirantes, de esquerda e com pouco apoio.
Na primeira parte dos cinco anos de mandato de Cavaco, sua relação com Sócrates esteve marcada pela cordialidade, embora com o passagem do tempo esta foi deteriorando-se e as diferenças ficaram evidentes nestas duas semanas de campanha eleitoral.
A coabitação entre o líder socialista e o conservador está atualmente em seus piores momentos, enquanto a falta de consenso parlamentar para enfrentar a crise econômica pode provocar eleições legislativas antecipadas.
Este temor, expressado publicamente pelos socialistas portugueses, levou a Cavaco a falar abertamente na campanha que não está em seus planos dissolver o Parlamento e derrubar o Executivo de Sócrates.
O atual presidente de Portugal lidera com clara vantagem as pesquisas, que dão um mínimo de 54% dos votos, quatro pontos mais do necessário para ser reeleito, e advertiu que recorrer ao segundo turno prejudicaria a Portugal diante dos mercados internacionais.
Uma postura contrária a que defende o socialista Manuel Alegre, a quem as pesquisas atribuem em torno de 20% e 25% dos votos, consciente que suas opções passam por alcançar o segundo turno e concorrer só com o aspirante conservador para capitalizar os votos da esquerda.
A campanha eleitoral, com a crise econômica ao fundo, se caracterizou, no entanto, pela contínua troca de acusações entre os candidatos.
Cavaco Silva foi acusado de receber um suposto tratamento gratuito entre 2001 e 2003 -, quando não ocupava nenhum cargo público - na compra e venda de ações de um banco sobre o qual atualmente recaem suspeitas de irregularidades.
Também foram pedidas explicações ao presidente sobre uma casa na região de Algarve que aparentemente não contava com todas as permissões necessárias.
Cavaco Silva preferiu não responder ao que chamou de "calúnia" e censurou os jornalistas que falem sobre isso apesar de saber "que quem montou a operação" - em alusão aos socialistas - não reflitam sobre o apoio popular conquistado por ele em campanha.
Frente a Alegre e Cavaco, os outros quatro candidatos que concorrem a este pleito representam diferentes correntes de esquerda, e somam, segundo as pesquisas, em torno de 15% e 20% dos votos.
O comunista Francisco Lopes fez da resistência às medidas de ajuste aprovadas pelo Governo o eixo de seu discurso, enquanto o humanista Fernando Nobre repartiu críticas tanto a Cavaco Silva quanto a Manuel Alegre e em geral à classe política lusa.
O deputado socialista Defensor Moura, que se apresenta como independente, reprovou ao atual presidente por aproveitar seu cargo para se transformar em um "adversário" do Governo.
Por último, José Manuel Coelho, deputado pela Madeira, realizou mais pitoresca campanha para as eleições presidenciais, as oitavas desde a instauração da democracia em 1974, mas centrada também nas consequências da crise econômica. EFE