Lisboa, 28 jul (EFE).- Com a venda de sua parte na Vivo para a
Telefónica e sua entrada na Oi, a Portugal Telecom fechou hoje um
capítulo de sua história após negociações "duras, difíceis,
complexas, longas e até violentas", segundo o presidente de seu
conselho de administração, Henrique Granadeiro.
O presidente-executivo da operadora portuguesa, Zeinal Bava,
seguiu a mesma linha e falou dos "quase 100 dias de um processo de
negociação complexo".
A Telefónica fez sua primeira oferta pela parte da Portugal
Telecom na Vivo no dia 6 de maio, por 5,7 bilhões de euros. No dia
1º de junho, elevou a proposta para 6,5 bilhões de euros.
A operadora espanhola aumentou ainda mais a oferta, para 7,15
bilhões de euros, em 30 de junho, um dia antes de uma assembleia
geral da empresa portuguesa para tomar uma decisão sobre a proposta.
Apesar de 73,9% dos acionistas da Portugal Telecom terem votado
então a favor da venda da Vivo, o Governo português vetou, por meio
de sua ação de ouro, a operação com o argumento de que a
participação na operadora brasileira era estratégica para o país.
"Valeu a pena", afirmou hoje o primeiro-ministro português, José
Sócrates, para quem se o Executivo não tivesse usado a ação de ouro
- ação declarada como ilegal pela Justiça europeia -, "a PT teria
vendido a Vivo sem alternativa no Brasil" e por um valor menor.
O presidente-executivo de PT evitou ser tão explícito, mas
pareceu estar de acordo com Sócrates ao reconhecer que o veto do
Governo serviu para "ganhar tempo para a busca de uma solução
alternativa".
"Conseguimos aproveitar esses 30 dias (desde a assembleia) para
criar uma alternativa que mantivesse a escala considerada
fundamental para o desenvolvimento da Portugal Telecom e da economia
portuguesa", sustentou Zeinal Bava.
Proteger a presença de Portugal Telecom no Brasil era o principal
objetivo do Estado e da empresa, uma porta aberta que a operadora
lusa conseguiu manter graças a um "excelente" acordo com a Oi, de
acordo com Sócrates.
Ao final de três meses de negociações, a operação - aprovada por
unanimidade pelo conselho de administração da Portugal Telecom - foi
"uma solução boa para todas as partes", segundo Bava.
Não é isso, entretanto, que pensa a oposição portuguesa. Sua
principal força, o Partido Social Democrata, acusou o socialista
Sócrates de haver mudado de posição quanto ao uso da ação de ouro.
O Bloco de Esquerda chamou o Executivo português de
"contraditório" e o PCP falou que os "interesses estratégicos" de
Portugal foram vendidos por "mais 350 milhões de euros".
Zeinal Bava disse sentir "certa nostalgia" ao deixar a Vivo, mas
afirmou que a operadora passa a fazer parte do passado da companhia
portuguesa, enquanto a Oi será seu futuro.
Após 12 anos de parceria, Telefónica e Portugal Telecom passarão
a ser concorrentes no mercado brasileiro. Mesmo assim, as duas
multinacionais preveem iniciar discussões a partir de janeiro de
2011 com vistas a estabelecer uma sociedade industrial. EFE.