Bruxelas, 9 mar (EFE).- A proposta de criação de um fundo
monetário europeu, que permita fazer frente dentro da zona do euro a
graves crises orçamentárias, como a vivida pela Grécia, está
provocando, antes mesmo de ser posta em prática, grandes
divergências entre os líderes da União Europeia.
Anunciada de surpresa no último fim de semana pelo ministro de
Finanças da Alemanha, Wolfgang Schäuble, a sugestão foi mal recebida
por importantes membros do Banco Central Europeu (BCE).
O presidente do Bundesbank e membro do Conselho do BCE, Axel
Weber, tachou hoje de "absolutamente contraproducente" o debate
sobre esse mecanismo nas circunstâncias atuais.
Na entrevista coletiva de apresentação dos resultados do
Bundesbank, realizada na cidade alemã de Frankfurt, Weber ressaltou
que o importante é que os Governos e as instituições europeias
tenham a vontade de cumprir as regras existentes, especialmente as
de disciplina orçamentária.
Se não houver essa vontade por parte deles, "ela também não será
cobrada de outra instituição", argumentou Weber, cotado para
substituir o francês Jean-Claude Trichet na presidência do BCE no
fim de 2011.
Berlim trabalha, aparentemente, em duas frentes. Por um lado,
pretende endurecer as normas atuais de vigilância e disciplina
orçamentária, com sanções efetivas para quem não cumprí-las, e, por
outro, quer estabelecer um mecanismo coletivo de resgate que permita
ajudar um membro da UE em dificuldades insolúveis de financiamento.
O tratado atual proíbe expressamente a Comissão Europeia (CE) e o
BCE de financiarem um Estado membro da zona do euro fortemente
endividado.
Em seu discurso, Schäuble assegurou que o Governo alemão trabalha
na criação de um fundo monetário para a zona do euro e que anunciará
em breve suas propostas aos demais países-membros.
A chanceler alemã, Angela Merkel, disse que a ideia é "boa e
interessante", e afirmou que os instrumentos atuais não são
suficientes.
Nesta terça-feira, o presidente do Eurogrupo (fórum informal no
qual participam os ministros das Finanças da zona do euro), o
luxemburguês Jean-Claude Juncker, também se uniu ao debate.
"Temos que discutí-lo. Há centenas de perguntas sobre a mesa que
devem ser respondidas, mas, basicamente, estamos de acordo com o que
propôs o ministro das Finanças alemão", disse, após receber Merkel
em Luxemburgo.
Por sua vez, a Comissão Europeia se declarou disposta a
contribuir, mas hoje, perante o plenário do Parlamento Europeu, em
Estrasburgo (França), o presidente da entidade, José Manuel Durão
Barroso, mostrou-se muito cauteloso.
Barroso descartou a possibilidade de que a Europa crie a curto
prazo esse fundo à maneira do FMI, e assegurou que é uma proposta
que "requer mais análise".
A ideia de Schäuble, segundo o português, foi apresentada sem
"nenhum tipo de detalhes" e é um plano a "longo prazo".
Além disso, segundo ele, a criação desse fundo "poderia
provavelmente requerer uma mudança no Tratado" da UE, com as
dificuldades que isso implica.
"Estamos trabalhando agora em preparar algumas iniciativas para
reforçar a coordenação das políticas econômicas e a supervisão dos
países", afirmou. EFE.