Quadrinhos argentinos para escolas mostram FMI como vilão e falam da dívida

Publicado 09.07.2010, 10:02
Atualizado 09.07.2010, 11:07

Joan Faus.

Buenos Aires, 9 jul (EFE).- O Fundo Monetário Internacional (FMI) é um galã americano que namora com más intenções à filha de um empresário em uma das quatro histórias em quadrinhos sobre a tumultuada evolução da dívida externa da Argentina estudada em várias escolas secundárias do país.

As histórias em quadrinhos foram elaboradas pelos responsáveis do Museu da Dívida Externa, que acaba de reabrir suas portas na Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade de Buenos Aires (UBA) com o objetivo de fazer com que os jovens tomem consciência dos males que o endividamento pode causar.

O FMI protagoniza a história em quadrinhos "Un intruso en la familia", que analisa os mais de 50 anos da relação entre a Argentina e o organismo financeiro, cujo personagem, Francis, consegue se desfazer do pai de sua namorada, Patricia, e ficar com seu negócio, ao que finalmente leva à ruína.

A parábola desta história é que Francis consuma seus desígnios malignos ao se casar com Patricia, de quem se divorcia depois da crise de 2001, quando a Argentina declarou a maior moratória da história (US$ 102 bilhões).

As ações de Francis coincidem com a opinião do Governo de Cristina Fernández de Kirchner acerca das "receitas" e planos de ajuste do FMI, com o qual a Argentina cancelou todas as suas dívidas (US$ 9,5 bilhões) em um só pagamento em 2006.

"Não nos damos conta que há coisas que não poderemos fazer no futuro se permitimos que a dívida cresça e os jovens devem estar conscientes dos erros do passado quando emitirem seu voto", explica à Agência Efe o professor da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade de Buenos Aires, Alberto Barbieri.

A dívida externa argentina somava US$ 147,119 bilhões no final de 2009, número equivalente a 47% do Produto Interno Bruto do país, segundo dados oficiais.

Outra das histórias em quadrinhos produzidas para os alunos de escolas secundárias retrata a evolução da dívida externa argentina desde 1824 - quando o país solicitou ao banco inglês Baring Brothers um empréstimo de 700 mil libras esterlinas - até 1976, quando um golpe de estado deu lugar a uma sangrenta ditadura militar.

Uma terceira história relata a "saga" do endividamento desde a ditadura militar (1976-1983) até a atualidade, enquanto a última história em quadrinhos analisa os projetos de troca de dívida por investimentos em educação impulsionados nos últimos anos pela Argentina e Brasil.

Os quadrinhos refletem a cronologia do endividamento a partir da viagem de extraterrestres a Buenos Aires no ano 3668, quando a cidade está devastada pelo "grande Holocausto nuclear" de 2268 que supôs a extinção dos seres humanos.

No transcurso do relato, os alienígenas descobrem que a aniquilação da Humanidade não correspondeu a um desastre nuclear, mas a um "processo de auto-eliminação sistemática" incentivado pelas "nações do hemisfério norte" no último quarto do século XX.

"Estas nações - prossegue a história em quadrinhos - ativaram um curioso mecanismo de desintegração social, uma combinação de cobiça, mediocridade e ignorância. Tudo isso reproduzido desde um núcleo compacto de concentração de poder".

A história analisa, além disso, a má gestão econômica de diversos Governos argentinos, como os burocratas da última ditadura militar que em 1983 deixaram como "herança" uma dívida externa de US$ 45 bilhões, seis vezes maior do que quando assumiram o poder em 1976.

Também retratam o Plano de Convertibilidade com paridade de "um por um" entre o peso e o dólar, lançado em 1990 pelo Governo de Carlos Menem (1989-1999) e que teve um final abrupto em janeiro de 2002, como consequência da moratória do fim do ano anterior, quando a Argentina acumulava quatro anos consecutivos de recessão.

As histórias em quadrinhos mostram o "um por um" entre o peso e o dólar como uma "venenosa poção grega", própria do Olimpo, que "colapsou" a economia argentina e "disparou" as desigualdades sociais.

"Frente a tal catástrofe, só ocorria ao FMI aplicar planos de ajuste, enquanto os agentes financeiros voltavam à ofensiva para consolidar seu poder e seguir transferindo renda a seu favor", lamenta um dos protagonistas.

A UBA, a maior universidade do país, trabalha com os ministérios de Educação e de Economia para assegurar que estas histórias em quadrinhos didáticas cheguem a todas as escolas argentinas. EFE

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