Jerusalém, 14 fev (EFE).- A queda do regime do presidente egípcio Hosni Mubarak conduzirá a um período de grande instabilidade e crise em toda a região que durará vários anos, advertiu nesta segunda-feira o especialista em assuntos estratégicos israelense Uzi Dayan.
"Não sabemos o que acontecerá no Egito, nem na Jordânia, nem com Abu Mazen (o presidente palestino, Mahmoud Abbas), nem sequer no Magrebe; há uma crise nos países em desenvolvimento e nós, em Israel, devemos estar preparados para todos os cenários", afirmou Dayan em uma entrevista coletiva concedida em Jerusalém.
Ex-subchefe do Estado-Maior e ex-assessor de Segurança Nacional dos primeiros-ministros Ehud Barak e Ariel Sharon, Dayan explicou que a instabilidade "afetará o Egito de forma imediata", pela simples razão de que "continua sem empregos, nem infraestrutura, nem um regime realmente livre" e, por isso, "a palavra-chave neste momento é instabilidade".
A questão levantada pelo ex-militar, agora à frente de alguns grupos de análise estratégica sobre segurança, é qual será o alcance da crise e se provocará o reordenamento do sistema de alianças no Oriente Médio e mudanças nos regimes árabes.
Em um extremo das previsões está o que denomina como "continuidade", e no outro um "caos" absoluto de resultados imprevisíveis que "dependem das circunstâncias particulares de cada país".
"O resultado não seria o mesmo na Jordânia e no Egito", ressaltou ao comentar as diferenças demográficas e socioeconômicas de cada uma das nações.
Do ponto de vista israelense, afirmou o ex-general de 63 anos, a pior possibilidade seria a de que no Egito chegasse ao poder, após as eleições, um Governo "alinhado à esfera de influência do Irã".
"A principal ameaça à estabilidade regional continua sendo o Irã, e se algum país pode se beneficiar da crise e instabilidade no Egito, é precisamente este", explicou.
O Conselho Supremo das Forças Armadas egípcias, que substituiu Mubarak após sua renúncia, anunciou no sábado que respeitará todos os compromissos internacionais e, em conversa privada, o ministro da Defesa egípcio, Mohamed Hussein Tantawi, assegurou ao titular da mesma pasta em Israel, Ehud Barak, que o tratado de paz de 1979 entre os dois países continuará de pé.
Para Dayan, trata-se de um bom sinal, mas sem garantias em longo prazo, porque "tudo dependerá de quem for governar o Egito".
"Mubarak era a pedra angular de uma aliança silenciosa de países assim chamados 'moderados' frente ao eixo do mal", e nesse sentido sua queda "pode afetar este equilíbrio" estratégico.
Dayan diminuiu, por outro lado, a importância a seu impacto sobre o processo de paz entre israelenses e palestinos porque "na realidade, Mubarak não tinha tanta influência, nem propunha soluções" para a resolução do conflito. EFE