Sobre anjos e pestinhas: uma breve história da infância europeia

Publicado 28.03.2011, 10:10

Luis Lidón.

Viena, 28 mar (EFE).- A infância já não é mais a mesma. Pelo menos isso se deduz após visitar a exposição que percorre através de mais de 140 obras, em sua maioria retratos, a evolução da infância na Europa nos últimos 400 anos.

A exposição "Von Engeln Bengel", que pode ser visitada no museu Kunsthalle da cidade austríaca de Krems - 100 quilômetros de Viena - até o próximo dia 3 de julho, convida as pessoas para uma viagem temporal através da representação da infância em arte por meio das obras de mais de 90 artistas.

No total há 140 pinturas, obras gráficas, esculturas e vídeos que refletem sobre aquela idade que o poeta alemão Rainer Maria Rilke batizou como "a autêntica pátria de todo adulto".

"A criança não tinha valor algum como pessoa durante muitos séculos, sua utilidade para os pais se reduzia a sua força de trabalho", explica o diretor do museu, Hans-Peter Wipplinger, nos catálogos da exposição.

Os direitos da infância quase não eram debatidos no Iluminismo dos filósofos John Locke e Jean-Jacques Rousseau, quando os "adultos de curta estatura" eram considerados indivíduos moldáveis graças à educação.

Na exposição se observa representações de descendentes da nobreza, como o da criança Margarita Teresa de España (1651-1673), atribuído a Francisco Ruiz da Igreja (1649-1704).

Destacam também outras obras do século XVII criadas por artistas da escola espanhola, como Juan Carreño de Miranda (1661-1700) e seu "Retrato de Carlos II" (1671).

Até o século XV as representações infantis quase não existiam, salvo em temáticas religiosas como anjos, o Menino Jesus e figuras mitológicas, explicam os responsáveis pela mostra.

Mas a partir do século XVI os retratos infantis se popularizaram, nos quais seus protagonistas aparecem vestidos como adultos com gestos sérios, como uma forma de apresentar o pequeno aristocrata ou burguês à sociedade, e representar assim o poder da família.

O arco temporal se estende até a arte mais atual, com representações como a do japonês Haruko Maeda em seu "Hearbeat of the death" (2009).

Ao longo da exposição há um grande número de obras de mestres da pintura como Gustave Courbet, Gustav Klimt, Oskar Kokoschka, Emil Nolde, Max Liebermann e Pablo Picasso, entre muitos outros, procedentes de 52 colecionadores internacionais.

Também se abordam um amplo espectro de temas, incluindo o do trabalho infantil na era industrial, e o mais contemporâneo de "descobrir a criança que existe em todo adulto", presente nas obras de vários artistas.

"Na arte contemporânea os artistas se ocupam de forma muito intensa sobre sua infância", explica a comissária da mostra, Nicole Fritz.

Na arte contemporânea as crianças já não são mais retratadas como sujeitos passivos, se enriqueceu a forma de vê-los abordando o lado positivo e, inclusive, o negativo como uma forma de criticar "o culto à infância" que se pratica nos meios, segundo Fritz.

Dentro da exposição estão também cerca de 30 obras de mestres espanhóis, flamengos, ingleses e franceses da Fundação Yannick e Ben Jacober de Mallorca (Espanha).

A vinculação de obras em diferentes suportes e épocas, para gerar um amplo diálogo artístico, é um dos grandes objetivos da mostra.

Entre os meios audiovisuais destaca um vídeo sobre a cruzada infantil na Idade Média, criado pelo austríaco Markus Schinwald, como um exemplo da exploração das crianças no passado, segundo Wipperman. EFE

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