Nova York, 30 jun (EFE).- O multimilionário investidor George
Soros previu hoje que o temor da inflação elevará as taxas de juros
e prejudicará o crescimento, após a economia ter se recuperado de
uma crise da qual China será a grande beneficiada.
"O medo de que a inflação dispare forçará o Federal Reserve (Fed,
banco central americano) a aumentar os juros, o que reprimirá o
crescimento e levará à 'estanflação' (combinação de estancamento
econômico e altos preços)", disse hoje Soros, em um fórum organizado
em Nova York pelo diário "The Wall Street Journal" e a escola de
negócios Iese.
No entanto, essa opção é "a melhor", pois "a alternativa seria
uma deflação, que só pioraria o arrasador peso de nossa dívida",
disse Soros, convencido de que a economia crescerá "a tropeções",
alternando avanços e paradas.
"Embora o pior da recessão já tenha passado, tantos anos de
excessos requerem um tempo para se recuperar", afirmou o investidor,
sem se atrever a indicar o quanto se dilatará esse processo, já que,
acrescentou com humor, "minha teoria é que o futuro é imprevisível".
Para Soros, a situação econômica atual é "um copo que pode ser
visto meio cheio e meio vazio, por isso, não é o momento de ter uma
firme convicção de nada" ao investir.
O grande erro que se cometeu com a bolha financeira foi, segundo
ele, crer que os mercados poderiam regular sozinhos a situação.
"As bolhas não podem ser prevenidas, mas é possível controlar seu
crescimento", segundo Soros, e para isso defendeu um papel mais
ativo dos reguladores, tentando sempre que estes mantenham sua
independência das forças políticas.
O conhecido investidor lembrou que, "nos velhos tempos, o banco
central enviava cartas às entidades dizendo que não se investisse
mais no mercado imobiliário, porque estava muito inflado, ou
recomendações desse estilo. Isso é o que se precisa agora".
"Não se pode esperar dos partícipes que resistam a uma bolha, o
previsível é que se incorporem a ela, portanto, é necessária uma
força externa - a regulação - que contrabalance essa atração",
explicou.
Nesse sentido, deu como exemplo a China e seu "capitalismo de
Estado", que permitiu que seu sistema financeiro tenha ficado
"praticamente intacto" com a crise internacional.
"Vejo a China como grande beneficiada da queda do sistema
financeiro internacional", já que "não temem a nacionalização dos
bancos, porque já estão naturalizados", e "estimulam suas
exportações financiando as mesmas", ao mesmo tempo em que "suspeito
que estão diversificando suas reservas em moeda estrangeiras e
apostando em matérias-primas".
Soros, que disse que ele também investiria em bens tangíveis,
mais que em moeda estrangeira, concluiu que "o poder e a influência
da China aumentará muito mais rápido do que se achava".
A respeito do trabalho da Administração do presidente dos EUA,
Barack Obama, o conhecido investidor resumiu que, em geral, está
fazendo "muito bem, mas algo menos que perfeito", já que falha
precisamente no processo de recapitalização dos bancos, onde "o
Tesouro deveria ser o assegurador, não o que coloca o dinheiro". EFE