César Muñoz Acebes.
Washington, 8 jun (EFE).- O Fundo Monetário Internacional (FMI)
disse hoje que a zona do euro precisa de uma estratégia para ajudar
seu sistema financeiro, que, segundo o organismo, sofrerá ainda
"perdas consideráveis" pela recessão.
Os números econômicos dos 16 países de moeda única deram indícios
de que o pior pode ter passado, mas o FMI mostrou em sua análise
periódica que a recuperação poderá ser frágil caso não haja uma
limpeza profunda nos bancos.
A entidade acredita que "a redução da atividade (econômica) deve
se moderar durante o resto de 2009 e dar lugar a uma recuperação
modesta na primeira metade de 2010".
"Quando finalmente aparecer, a recuperação provavelmente será
frágil" disse Marek Belka, diretor do departamento da Europa do FMI,
aos ministros de Finanças da zona do euro reunidos hoje em
Luxemburgo.
O desemprego na zona de moeda única está em 9,2% e os analistas
preveem que seguirá sua escalada nos próximos meses, o que
prejudicará a recuperação.
Outro fator prejudicial à atividade econômica é a valorização do
euro, que segundo o FMI encarece as exportações.
A economia da zona do euro teve contração de 2,5% no primeiro
trimestre do ano, a pior desde o início dos registros em 1995, e
para todo 2009 o Banco Central Europeu (BCE) estima uma contração de
entre 5,1% e 4,1%.
No campo fiscal, os analistas do FMI consideram que a Europa deve
continuar em 2010 com as medidas de estímulo anunciadas até agora e
aprovar novas ações apenas em caso de emergência.
A postura reflete a mudança de tom na instituição, que no último
ano tinha pressionado os países avançados a gastar mais para atenuar
os efeitos da recessão, mas que agora voltou a alertar sobre o
perigo do alto déficit orçamentário.
Em sua declaração hoje, o FMI reiterou seu conselho para que a
zona do euro faça reformas estruturais, como a melhora da educação e
a liberalização dos serviços, como forma de sair da crise com bases
mais firmes.
No entanto, manteve o olhar principalmente no mais imediato e o
que viu foi um grande buraco na política da zona de moeda única
sobre o setor financeiro.
"Um elemento-chave que falta é uma estratégia ativa para lidar
com um sistema financeiro debilitado, que inclua uma revisão das
necessidades de capital para suportar a recessão, a limpeza do
sistema financeiro de seus ativos de má qualidade e a reestruturação
das instituições mais frágeis", assinalou o FMI.
A União Europeia (UE) prepara uma prova similar à feita pelos EUA
para avaliar a resistência dos maiores bancos, cujos resultados
deveriam estar prontos antes de setembro, embora sejam
confidenciais.
O Fundo previu que os bancos sofrerão perdas "consideráveis"
adicionais pela recessão, no momento em que ainda têm dificuldades
para se financiar e o volume de créditos que estendem é baixo.
"Uma limpeza resolvida e coordenada do sistema bancário é agora
fundamental para restabelecer a confiança no sistema financeiro",
destacou a entidade.
Essa limpeza passa pela nacionalização de algumas entidades, a
recapitalização de outras e a liquidação das insolúveis, segundo o
FMI.
A deflação também é uma ameaça para a Europa, embora pequena,
segundo o FMI, que disse que poderia se materializar caso a crise se
agrave.
O índice de preços ao consumidor anualizado de maio marcou 0%
pela primeira vez na história e os analistas e o próprio FMI preveem
que a zona do euro caia em um período temporário de redução de
preços.
O perigo é que esta redução se reflita nas expectativas dos
consumidores e estes evitem gastar à espera de que os preços caiam
ainda mais.
Nesse contexto, o FMI aconselhou o Banco Central Europeu (BCE)
que estude a possibilidade de cortar ainda mais a taxa básica de
juros, atualmente em 1%. EFE